TRAGÉDIA CONFIRMADA: PF encontra remanescentes humanos em área indicada por Amarildo, que confessou o crime

Amarildo confessou o crime após prisão do irmão e fez a reconstituição no dia de hoje. FOTO: Bruno Kelly/Reuters.

DA REDAÇÃO

MANAUS – |Onze dias após o desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, a Polícia chegou a um dos autores da execução e ao local onde foram enterrados os corpos de ambos, desaparecidos desde o último domingo. O pescador Amarildo da Costa Oliveira, preso desde a semana passada, confessou ter participado do crime e levou os policiais aos locais onde foram cometidos os crimes e também onde foram enterrados os corpos. O motivo teria sido um flagrante de operações de pesca irregular, em área indígena.

A confissão de Amarildo e o encontro de remanescentes humanos no local indicado por ele foram confirmados agora à noite, em entrevista coletiva, pelo superintendente da Polícia Federal, Eduardo Alexandre Fontes, que coordena o Comitê de Crise que investiga o caso e é responsável pelas buscas. De acordo com o delegado, Amarildo fez uma confissão voluntária na noite de terça-feira, quando também revelou onde havia escondido os corpos. O delegado não descartou o envolvimento de outras pessoas e falou que há possibilidades de novas prisões nos próximos dias. Amarildo teria dito – o que não foi confirmado na coletiva, mas por outras fontes a diversos veículos – que ele teria participado do desfecho do crime, com a ocultação dos cadáveres.

Durante o dia de hoje foram feitas buscas e reconstituição do crime, segundo o delegado. O local onde o crime foi cometido e onde os corpos foram deixados são distantes entre si, em aproximadamente 3 quilômetros e o segundo é uma área de difícil acesso. Eles foram mortos na região do rio Itaquaí, município de Atalaia do Norte, a 1.136 Km de Manaus, onde vinham sendo realizadas as buscas até agora e também foram encontrados os objetos pessoais – sandálias, sapatos, computador e uma mochila – de Bruno e Phillips, que estão sendo analisados pela Polícia.

O delegado também informou que os remanescentes humanos encontrados serão trazidos a Manaus e levados para Brasilía para serem submetidos à analise do Instituto Nacional de Criminalística da PF. Também foi localizado o barco das vítimas, afundados em uma área próxima. As equipes continuam as escavações para encontrar novos materiais para análise e também farão a retirada do barco nesta quinta-feira (16). Todas as investigações estão sendo realizadas nos padrões de Interpol, o que permite que sejam aceitas pelo governo britânico, de acordo com o superintendente.

A Polícia Federal não deu detalhes sobre a forma como o crime foi cometido. Mas, tanto o superintendente da PF quanto o delegado Guilherme Torres, da Polícia Civil, classificaram o crime como “bárbaro e hediondo”. Também mencionaram que, pelo relato do suspeito, houve embate físico e disparos, mas que apenas a perícia e as investigações serão capazes de indicar as causas e as motivações do crime.

A natureza bárbara foi descrita durante todo o dia de hoje por jornalistas que cobriam o caso in loco. Uma vez executados, ambos tiveram seus corpos despedaçados, queimados e enterrados.

Prisão temporária – A juíza Jacinta Silva dos Santos, titular da Comarca de Atalaia do Norte, município do interior do Amazonas, determinou o cumprimento da prisão temporária, por 30 dias, de Oseney Oliveira, acusado de envolvimento no caso de desaparecimento do indigenista e servidor público Bruno da Cunha Araújo e do jornalista inglês Dominic Mark Phillips, ocorrido naquele município no início deste mês.

Multidão – No final da tarde desta quarta-feira, uma multidão se aglomerou no Porto de Atalaia do Norte à espera das forças policias – Civil, Militar e Federal – que estavam na área de busca, juntamente com Amarildo para saber as informações trazidas por eles. Moradores do município, jornalistas e ativistas buscavam a confirmação das informações divulgadas durante todo o dia sobre a confissão e o resultado das buscas pelos corpos.

O advogado da Unijava, Eliezer Marubo, usou sua conta no Twitter para cobrar o protagonismo indígena nas buscas. “Poucos jornais falaram do protagonismo dos indígenas do Vale do Javari nas buscas por Bruno e Dom. A área de busca atual foi mapeada e indicada às autoridades pelos indígenas”, informou.

Conhecidos os executores, resta saber se as investigações vão ser levadas até o final para descobrir se houve mandantes, quem foram eles e por que mandaram executar Bruno e Dom Phillips.  

Outra morte – Não é o primeiro assassinato de agentes da Funai e dedicados à luta contra atividades irregulares na região do Vale do Javari e, possivelmente, pelos mesmos motivos. Em setembro de 2019, o ex-funcionário da Funai, amigo de Bruno e que também investigava crimes de pesca, caça e garimpo ilegal da região, Maxciel Pereira dos Santos, o Max, foi assassinado com tiros na cabeça, na avenida da Amizade, principal via da cidade de Tabatinga. Ele estava saindo para jantar com a mulher dele, quando foi abordado por dois homens em uma moto. Até hoje o crime não foi esclarecido.

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