Quase metade dos pacientes com HIV abandonou tratamento na Fundação de Medicina Tropical

A Fundação de Medicina Tropical fica no Dom Pedro, Zona Centro-Sul, e é considerada referência no assunto. Foto: FMT/Assessoria – Divulgação

Vanessa Bayma

vanessabayma@canaltres.com.br

MANAUS – AM | Atualmente com o cadastro de 14 mil pessoas que vivem com HIV, a Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HDV) registrou, nos últimos 90 dias, o abandono de tratamento de 6.533 mil pacientes que não retornaram à fundação para retirar seus medicamentos. Em Manaus, a instituição é considerada centro de referência no atendimento a infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Segundo o gerente de IST, Aids e Hepatites Virais da FMT-HDV, Reinan Brotas, dependendo do tempo de afastamento do paciente, o sistema imunológico dele pode ficar comprometido e susceptível a outras infecções, como a tuberculose. A doença infecciosa bacteriana ataca os pulmões. Além disso, outras doenças podem ser causadas devido à baixa imunidade, comprometendo o retorno ao tratamento.

“A gente precisa primeiro descartar, nesse retorno, a suspeita de tuberculose para podermos reiniciar o tratamento contra o HIV, caso a pessoa apresente algum sintoma. Do ponto de vista clínico, quando o paciente abandona, pode ser necessário que ele precise usar mais medicamentos e também há o risco do vírus apresentar resistência ao que está sendo utilizado”, explicou o gerente de IST, ressaltando que nesses casos pode ser necessário mudar o protocolo terapêutico e até aumentar a dosagem medicamentosa.

No entanto, segundo o gerente, é necessário entender que o afastamento se deve a fatores sociais e econômicos, principalmente, mas a Fundação de Medicina Tropical realiza uma busca ativa dos pacientes registrados. “A fundação tem parceria com a AHF Brasil (Aids Healthcare Foundation) e eles entram em contato com esse paciente para diminuirmos o número de abandono. Eles fazem o contato direto”, explicou Reinan Brotas.

Novos casos

De janeiro a outubro desse ano, de acordo com Boletim Epidemiológico de HIV/Aids, da Secretaria de Estado da Saúde (SES-AM), foram registrados 1.066 novos casos de pessoas com HIV em todo o Amazonas. Deste número, 807 no sexo masculino e 259, no feminino. E, após o diagnóstico, muitas pessoas desconhecem seus direitos, sendo esses uns dos motivos apontados para a falta de acompanhamento.

“Tem paciente que não tem dinheiro para pagar a passagem de ônibus e não sabe que tem direito à gratuidade. Nós orientamos, ajudamos com documentos, e fazemos o que está ao nosso alcance para diminuirmos esse abandono. Às vezes, a pessoa deixa de fazer o tratamento porque não tem aonde tomar no trabalho ou até mesmo em casa, porque a família não sabe. Precisamos entender, antes de tudo, o porquê desse abandono”, pontuou Brotas.

Desde 1996, de acordo com informações do Ministério da Saúde, o Brasil distribui gratuitamente os medicamentos antirretrovirais. O vírus, de acordo com o gerente de IST, ataca as células de defesa do corpo e, o controlando, é possível ter uma melhor qualidade de vida e prevenir a evolução para a Aids, a doença decorrente da infecção.

“Antigamente era chamado de ‘coquetel’, mas hoje em dia o tratamento é muito mais simplificado e com dois medicamentos, geralmente, por dia. Os comprimidos têm a função de suprimir e diminuir a carga viral, melhorando a imunidade do paciente”, esclareceu. Na FMT, ainda, é distribuído para cada pessoa o suficiente para três meses, não sendo necessário o retorno mensal.

Volta ao tratamento

Independente do motivo do afastamento, assim que a pessoa quiser, é possível retornar ao tratamento. Antes, no entanto, é feita uma espécie de “check-up” com equipe multidisciplinar para analisar a quantidade de carga viral.

O primeiro passo é na enfermagem, onde são solicitados exames de sangue e avaliação clínica. Depois, é marcada consulta com especialista e iniciado o tratamento que já era feito anteriormente. “Existem exames laboratoriais, como o de carga viral de HIV, que quantifica o quanto de vírus tem no organismo e também o de quantidade de linfócitos, que verifica o sistema imunológico, como está, se muito baixo ou não”, pontuou.

Em caso de algum sintoma de algum outro problema, ainda segundo Brotas, é possível fazer a medicação em conjunto. Apenas em caso de suspeita de tuberculose é iniciado primeiramente o tratamento contra a doença bacteriana infecciosa, que ataca os pulmões, para algumas semanas depois entrar com o tratamento contra o HIV.

Dados

No período de janeiro a julho de 2020 foram notificados 605 novos casos de HIV em adultos em todo o Amazonas. A faixa etária mais acometida foi de 20 a 20 anos. Em 2019, foram 1.376 casos notificados.

Além da FMT-HDV, na capital existem outras unidades que fazem o acompanhamento, sendo elas: Fundação Alfredo da Matta, Policlínica Gilberto Mestrinho, Caimi Ada Viana, Policlínica Antônio Aleixo, além dos Serviços Municipais de Assistência Especializada (SAEs) que funcionam nas Policlínicas Comte Telles (Zona Leste); José Antônio da Silva (Zona Norte); Clínica da Família Antônio Reis, (Zona Sul); e Clínica da Família Franco de Sá (Zona Oeste).

A AHF Brasil (Aids Healthcare Foundation), que trabalha em parceria com a FMT, é uma ong presente em 45 países que realiza teste grátis de HIV, consultas médicas, tratamento e acolhimento multidisciplinar. Só em Manaus, são seis unidades que a AHF dá apoio.

Vanessa Bayma
Vanessa Bayma
Jornalista manauara com experiência de mais de 10 anos em jornal impresso. Passou pelas redações de A Crítica e Manaus Hoje como repórter e editora. Fez parte da assessoria de comunicação da Alfândega da Receita Federal. Gosta de ouvir pessoas.

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