OUTUBRO ROSA: Amazonas reduz prazos para exames, diagnóstico e tratamento do câncer de mama

Existem hoje, aproximadamente, 400 mulheres fazendo o tratamento de Câncer no Amazonas. FOTOS: Divulgação/FCecon

Jacira Oliveira
Especial para o Canal Três

MANAUS – |O Outubro Rosa é uma campanha mundial que tem como foco a prevenção. Incentivar mulheres a fazerem o autoexame (exame de toque de mama) e, percebendo alguma alteração, procurar o médico imediatamente. Estimula-se, dessa forma, o diagnóstico precoce e o início do tratamento o mais cedo possível, evitando-se, assim, o agravamento do câncer e uma possível morte da paciente.

Mas, entre a intenção e a realidade há uma longa distância. O sistema público de saúde ainda navega em águas turbulentas, quando se trata de realização de exames, diagnósticos e tratamento.

Desde 2012, existem leis federais que obrigam que o paciente com câncer deve iniciar o tratamento em, no máximo, 90 dias. A realidade: entre a descoberta de um nódulo e a realização dos exames, a média do tempo de espera era de oito meses e, após a confirmação do diagnóstico, mais seis meses na fila para iniciar o tratamento, totalizando 1,2 ano para o início do tratamento.

“A mulher que fazia o autoexame e descobria um nódulo do tamanho de um caroço de feijão, chegava ao tratamento com um nódulo do tamanho de uma laranja”, diz o diretor-presidente da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas (FCecon), mastologista e ginecologista Gerson Mourão, ilustrando o que o tempo de espera de 14 meses pode provocar na evolução da doença e na capacidade de recuperação da paciente pelo tratamento.

“Nós rompemos esse paradigma”, afirma Mourão, apontando que hoje a FCecon consegue cumprir os prazos determinados por lei para o início do tratamento – o que tem impacto direto no direito da paciente.

A partir da consulta e indícios da doença começa a o procedimento de diagnóstico e tratamento.

Briga de leões – Mas, para chegar a esse resultado, foi necessária uma briga árdua encampada pela diretoria do órgão e com o apoio do Ministério Público. No centro da questão, a transferência da responsabilidade de realizar o diagnóstico para a atenção primária e secundária. Ou seja, a detecção e exames para confirmação de diagnósticos passaram a ser feitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), que encaminham o (a) paciente para duas centrais de exames que estão habilitadas para fazer o que antes recaía sobre a FCecon. E as filas acabaram.

“Desde abril deste ano, as mamografias são feitas nas UBS que, ao constatar a presença de tumor ou nódulo, encaminham para os centros, que fazem a biopsia. O diagnóstico sai, no máximo, em 45 dias e o tratamento começa também em 45 dias. Reduzimos 1,2 anos de espera para 90 dias”, afirma o médico. “Isso é prevenção. Dar tratamento no período adequado, evitando que a doença evolua. E dar ao paciente a capacidade real de recuperação”, afirma.

De acordo com o diretor-presidente, os centros de diagnósticos realizam, em média, 25 biopsias por semana (100 ao mês). Historicamente, também as mulheres passavam pelo procedimento cirúrgico e esperavam quatro meses para iniciar a radioterapia, e três para começar a quimioterapia. Esse tempo foi reduzido para uma semana, quando todos os exames estão em mãos, de acordo com Gerson Mourão. Há, em média, 400 mulheres em tratamento de câncer de mama, por ano.

“Isso tudo é inédito. Somos o único estado que está conseguindo cumprir o prazo de 90 dias para diagnóstico e início do tratamento”, ressalta o diretor-presidente.

“A chave é a prevenção. Tratar antes que seja preciso internar”.

Gerson Mourão, Diretor-presidente da FCecon

Quando o político ajuda – Para chegar ao ponto atual, foi necessário fazer uma revolução interna na FCecon. Havia, por exemplo, 2,7 mil peças acumuladas de 2012 a 2017 na Patologia para diagnóstico. A direção da unidade foi buscar o comprometimento dos servidores para dar conta do trabalho acumulado e o apoio político necessário para trazer os recursos financeiros imprescindíveis para modernizar todos os procedimentos na instituição.

“Mais que estratégia, é preciso coragem para enfrentar um desafio como esse. E nós conseguimos o comprometimento e o empenho dos servidores, tanto que hoje já não há trabalho acumulado”, frisa o diretor-presidente.

Os recursos vieram, quase que totalmente, de emendas parlamentares tanto da bancada federal (vários deputados federais e senadores destinaram recursos do orçamento da União para esse fim), como de parte da bancada de deputados estaduais, que também fez o mesmo movimento no orçamento do Estado, independentemente de cores partidárias.

O novo mamógrafo obtido no processo de modernização da FCecon.

“Automatizamos a patologia, compramos um mamógrafo de última geração, modernizamos vários setores com equipamentos, automação e muito avanço tecnológico e estamos construindo um centro para erradicar o câncer de colo (útero)”, conta o diretor, revelando ainda que 85% dos recursos para essas finalidades vieram de emendas parlamentares.

O Outubro Rosa – A campanha mundial, que caminha para completar quatro décadas, tem surtido efeito no comportamento das mulheres, na avaliação de Gerson Mourão. “O autoexame é um marco histórico e a geração atual faz, com certeza”, defende.
Ele lembra que, ao contrário do que preconiza a Organização Mundial de Saúde, que 70% das mulheres deveriam ter acesso aos exames, no Brasil isso ocorria com menos de 10%. “O governo brasileiro deu essa garantia, em 2012, mas faltou complementar, e isso está sendo feito agora e é uma grande vitória”, destaca.

Mas, ele adverte que é preciso que o Brasil pense e aja mais rapidamente em relação ao câncer, uma vez que a população está envelhecendo mais. “A estimativa é de aumento de 50% dos casos de câncer até 2030”, alerta. “Mais de 10% dos municípios já apontam o câncer como a principal causa de mortes”, diz.

Hoje, no Brasil, existem aproximadamente 600 mil pessoas diagnosticadas com câncer. “A chave é a prevenção. Tratar antes que seja preciso internar”, conclui.

Jacira Oliveira
Jacira Oliveira
Jacira Oliveira é jornalista, tendo atuado em redação dos principais grupos de comunicação do Amazonas além de assessorias de comunicação de instituições federais, estaduais e municipais. É graduada em Ciência Política e está concluindo a pós-graduação também em Ciência Política.

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