MODA: Desafios vão da desvalorização à dificuldade de acesso à matéria-prima

Bruna, do hobby na infância ao investimento da carreira de estilista. FOTO: Arquivo Pessoal.

Olívia Almeida

MANAUS – |Com faturamento bilionário, o mercado da moda é um dos segmentos importantes da economia, no Brasil. Apesar do cenário promissor, no Amazonas os profissionais do ramo dizem que o mercado local é desafiador e enfrenta problemas, que vão desde a desvalorização até a dificuldade de acesso à matéria prima.

Para a designer de moda Melissa Maia, os desafios aumentaram ainda mais por conta da pandemia de Covid-19. “Tivemos uma regressão muito grande no mercado. Com menos dinheiro circulando no setor, isso acaba por desvalorizar a mão de obra e a criação artística”, avalia a profissional.

O interesse pela moda surgiu ainda na infância. Melissa conta que por ter uma mãe que atua com jornalismo cultural, além de fazer teatro e, logo em seguida ballet, o encanto com figurinos foi uma consequência. “Então, acabei me tornando figurinista”, comenta.

Melissa se voltou para os figurinos de palco, com trabalhos reconhecidos e premiados. FOTO: Arquivo Pessoal.

Musicais, filmes e óperas fazem parte do portfólio de Melissa, que destaca os trabalhos no Concerto de Natal do Amazonas e o Festival Amazonas de Ópera como realizações na sua carreira. Em 2020, ela ganhou o Prêmio de Melhor Figurino no 8º Festival de Teatro da Amazônia e o Prêmio Cenym com o espetáculo “A Caixa Mágica do Natal”.

Aos que sonham em atuar no ramo da moda, a dica da figurinista é investir em capacitação profissional. “Fazer bons cursos, nunca se cansar de buscar boas referências e encontrar sua linguagem, porque talento é só 30%, 70% é dedicação e correr atrás”, aconselhou Melissa.

Desafio geográfico – Já a jornalista e criadora de moda Cristiane Batista avalia que um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais, hoje, é o acesso a materiais e tendências recém-lançadas no mercado. “A alternativa é trabalhar com o que temos ou criar o próprio tecido, por exemplo, já que levará meses ou anos para chegar aqui”, lamenta.

Cris Batista, designer de roupas à acesórios. FOTO: Arquivo Pessoal.

Ela começou a desenhar roupas ainda na infância e há 20 anos lançou a marca Santa Cris. “Aos 9 anos a minha primeira criação saiu do papel e virou uma roupa que eu queria muito usar, então, escolhi os tecidos e fui até uma costureira”, lembra a criadora de moda.

Anos depois, além de desenvolver peças, Cristiane também se tornou designer de bijouterias e acessórios. “Cheguei inclusive a ter uma fábrica de bolsas, a produção era bem intensa”, comenta a profissional, que já desenvolveu figurinos a acessórios para cantores e personalidades locais, como as artistas Karine Aguiar e Vanessa Auzier. 

Além do conhecimento técnico, para atuar no ramo da moda é essencial que o profissional aposte no processo criativo e nas oportunidades de mercado. Cristiane observa que há demandas ao longo de todo o ano. No período do carnaval e Festival de Parintins, por exemplo, ela monta um atelier itinerante para customização de camisetas, abadás e acessórios.

Referências europeias – Formada em relações públicas e designer de moda, Bruna Paes Barreto também começou a se interessar por esse mundo ainda na infância. “Eu tive bastante influência das minhas avós que costuravam por hobby, peças lindas, sofisticadas, com referência europeias”, recorda a idealizadora e fundadora da Casa Paes Barreto Atelier.

Bruna revela que, depois de atuar por anos como chefe de relações nacionais e internacionais no governo federal e do Amazonas, decidiu apostar na carreira de estilista. 

“Tracei um plano com muitas metas e paralelo ao meu trabalho, aos 36 anos, decidi entrar em uma faculdade de moda. Não foi nada fácil trabalhar o dia todo e estudar à noite por alguns anos, mas sabia que a recompensa seria leve, doce e muito honrosa”, declara Bruna, que hoje trabalha com vestidos de noivas e eventos de luxo.

A estilista já assinou peças para muitas artistas e influenciadoras, entre elas, a atriz Suzana Werner. “Em todos os meus trabalhos procuro levar o nome do Amazonas. No entanto, não conto com nenhum incentivo financeiro local, e isso é desafiador”, critica.

Cerca de 80% dos tecidos usados pela profissional são comprados no exterior. “Não é fácil a logística que faço para oferecer produtos exclusivos para as minhas clientes, porém, sigo firme e forte, cumprindo minha missão”, destaca a estilista amazonense.

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