Ingresso em graduação a distância supera presencial, em instituições públicas e privadas

Uma das rotinas da professora Carla é gravar as aulas em estúdio. Foto: Divulgação

DA REDAÇÃO

MANAUS – | Quem torcia o nariz para os cursos de graduação a distância já pode começar a rever seus conceitos. A Educação a Distância (EaD) já é uma realidade irreversível e não está mais restrita ao universo das instituições particulares. O Censo da Educação Superior de 2021, publicado em fevereiro deste ano, confirma que, pela primeira, o número de matriculados no EaD, em cursos de ensino superior, superou o número de ingressos em cursos presenciais nas universidades públicas e privadas.

Dos mais de 3,7 milhões de alunos que ingressaram em cursos superiores, mais de 2 milhões (53,4%) optaram por EaD, enquanto 1,7 milhão (46,6%) pelos presenciais. A tendência já vinha sendo registrada com o crescimento exponencial dos cursos a distância, com o fenômeno ocorrendo em 2019 na rede privada, e se expandindo, em 2020, também para a rede pública.

Para a professora Carla Castelo Branco, o ensino a distância já era uma realidade, antes mesmo da pandemia de Covid-19. “Já ministrava EaD antes da pandemia, mas com ela, ficou muito mais frequente. Hoje, muito alunos preferem essa dinâmica que o ensino a distância oferece. Isso dá para perceber, por exemplo, em faculdades onde o ensino é híbrido. Os alunos se adaptaram muito bem”, explica. Para ela, a principal vantagem é a otimização do tempo.

Graduada em jornalismo, mestra em Educação e doutoranda em Comunicação e Linguagens, a amazonense dá aulas, hoje, em uma Faculdade do Paraná, com alunos em todo o Brasil, transitando em várias disciplinas, cada uma, em média, com 40 alunos. “Tenho alunos no Paraná, em Minas Gerais e em vários outros estados do país”, conta Carla, que também tem experiência como aluna de EaD, pois fez uma segunda graduação nessa modalidade e está concluindo o doutorado a distância.

A rotina da professora Carla inclui gravações em estúdio – ela se desloca de Manaus a Curitiba para gravar as aulas -; alimentar classroom ou AVA (ambiente virtual de aprendizagem) com os conteúdos, exercícios e provas, além de fazer tutoria para alunos em fase de Trabalho de Conclusão de Curso, desde a Metodologia de Pesquisa até o fechamento do trabalho.

A pandemia trouxe novos desafios a professores e alunos. Foto: Divulgação

Adaptação – Independentemente dos motivos que estão levando o EaD a assumir o protagonismo do ensino superior, o fato é que a pandemia de Covid-19 obrigou instituições de ensino, professores e alunos a buscarem novas formas de aprendizagem, com uso de tecnologia. O Censo do Ensino Superior também buscou identificar essa mudança.

Para o também professor universitário Rômulo Araújo, que ministrava aulas presenciais desde 2015, foi necessário que alunos e professores se adaptassem rapidamente ao novo cenário, buscando plataformas de encontros online (Meet, Zoom, Teams, livros e artigos em pdf, substituindo os livros físicos das bibliotecas e as cópias dos textos e recorrendo às publicações em portais, sites e blogs). “Foi necessário também buscar outras ferramentas digitais para avaliações. Cheguei a elaborar provas, por exemplo, via formulário do Google”, explicou.

Rômulo também diz que a experiência, em de vez de afastar, o aproximou ainda mais da realidade dos alunos. “Tinha alunos que participavam das aulas trazendo para a tela parte da sua vida pessoal, como filhos, irmão, cachorro e até mesmo a parede de madeira ou de tijolo cru. Foi uma experiência transformadora, em seus múltiplos aspectos”, diz.

“Hoje penso que, neste momento em que a vida tenta voltar a uma diferente normalidade, estamos, alunos e professores, de alguma forma mais preparados para permitir que o ensino-aprendizado se dê de múltiplas maneiras, com o presencial e o EAD se complementando, não se anulando ou se substituindo”, conclui o professor.

O censo – Mesmo com a pandemia, iniciada em 2020, a educação superior, no Brasil, manteve a tendência de crescimento em número de matriculados, ingressantes e concluintes. O levantamento também constatou que a existência de 2.457 instituições de educação superior no Brasil, 2.153 (87,6%) são privadas e 304 (12,4%), públicas. Constatou, ainda, que 3.23.376 professores atuaram nesse nível educacional, em 2020.
Por conta da pandemia de Covid-19, a data de referência do Censo da Educação Superior 2020 foi flexibilizada para o dia o final de junho para alinhar a pesquisa ao final do ano letivo, em função das alterações nos calendários acadêmicos das instituições de ensino.
O censo é realizado anualmente pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e é o instrumento de pesquisa mais completo do Brasil.

Após a divulgação, as informações passam a figurar como dados oficiais para subsidiar a formulação, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas da educação superior, além de contribuir para o cálculo de indicadores de qualidade, como o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC).

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