HANSENÍASE: Amazonas vive endemia silenciosa com foco nas calhas do Purus, Madeira e Juruá

Cirurgias reparadoras são a última etapa do programa. FOTOS: Divulgação/Fuam.

DA REDAÇÃO

MANAUS – | Os municípios das calhas dos rios Madeira, Purus e Juruá vivem uma endemia oculta ou silenciosa de hanseníase, segundo o diretor-presidente da Fundação Alfredo da Mata (FUAM), o epidemiologista Ronaldo Derzy Amazonas.

A constatação da endemia oculta está sendo possível a partir da realização do Programa Apeli (Hanseníase – Ação para a Eliminação), que vem sendo desenvolvido pela FUAM desde 2019, mas que por conta da pandemia e de falta de pessoal em número suficiente, apenas agora em 2022 ganhou mais corpo.

A ação piloto foi realizada em julho de 2019, em Autazes, onde havia o registro de cinco casos novos e, em 20 dias que a equipe ficou no município, foram constatados 19, indício de que a suposição de endemia oculta estava se confirmando. Mais grave ainda, de acordo com o diretor-presidente, é que desses casos novos, 9 foram registrados em população indígena e 8 em crianças com menos de 15 anos. “Isso é uma tragédia epidemiológica, tanto nas populações mais vulneráveis quanto em criança”, afirma.

As atividades do programa foram retomadas em julho de 2021 e já foram realizadas seis ações, nos municípios de Careiro Castanho, Novo Aripuanã, São Gabriel da Cachoeira, Lábrea, entre outros. “Aquilo que era uma mera desconfiança nossa se consolidou do ponto de vista epidemiológico. Existe, de fato, uma endemia silenciosa ou oculta no Amazonas. Nesses seis municípios iniciais, descobrimos 106 casos novos de hanseníase, em 20 dias de trabalho em cada município”, relata.

Para este ano, estão programadas mais cinco ações em cinco municípios diferentes. E uma sexta ação, em julho, que vai cobrir, ao mesmo tempo, três cidades da região de fronteira – Brasil, Colômbia e Peru –, envolvendo os municípios brasileiros de Tabatinga, Atalaia do Norte e Benjamin Constant.

De acordo com Ronaldo Derzy, a FUAM, instituição que é responsável pelo controle da doença no estado, passou por problemas de falta de recursos humanos e financeiros para manter as ações de controle da hanseníase nos 61 municípios do interior. Somente agora está se reestruturando.

Segundo ele, a fundação perdeu metade do seu corpo técnico e professional por morte, aposentadoria, transferências e exonerações, afetando a sua capacidade operacional.

“No caso de doenças como a hanseníase, onde os primeiros sintomas só começam a aparecer entre dois a sete anos do contágio, isso é bastante danoso. A endemia foi se ocultando e se avolumando”, afirmou.

Hanseníase no Amazonas – Do início do século XX e nos 80 anos subsequentes, o Amazonas ocupou o primeiro lugar de casos de hanseníase no Brasil. Havia, naquele momento, uma média de 3 mil novos casos anuais. Com o novo tratamento por poliquimioterapia, foi possível controlar a endemia, no Estado. E, hoje está na 20ª posição, segundo o diretor da FUAM, ficando atrás apenas de estados das regiões Sul e Sudeste.

“Isso é animador, mas ao mesmo tempo, desafiador. Cada vez que levamos o projeto Apeli para algum município – e aí precisamos levar aproximadamente 25 profissionais – temos que suspender alguns serviços”, destaca.

Os exames de pele fazem parte do processo de diagnóstico da doença.

APELI – A última ação da FUAM foi no município de Lábrea, a 702 quilômetros de Manaus, entre os dias 21 e 22 de maio, com a realização de cirurgias reparadoras em pacientes de hanseníase. No total, 14 pacientes foram beneficiados por 20 procedimentos cirúrgicos. A equipe esteve em Lábrea em agosto de 2021 para a primeira etapa do Apeli, realizando, na época, mais de 3,6 mil atendimentos, entre consultas médicas, exames dermatológicos e outras ações.
Agora, numa nova fase do projeto, a equipe, composta por médicos (dois cirurgiões e um médico do município), enfermeiro, fisioterapeuta e técnico, retornou para as cirurgias reparadoras.
A ação resultou em 29 consultas ortopédicas, 27 consultas de enfermagem, dez cirurgias de neurólise (cirurgia de descompressão de nervos) e dez cirurgias de úlcera plantar (úlceras na região dos pés ocasionadas por lesões repetitivas devido à falta de sensibilidade que a hanseníase provoca).

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