Dia Mundial do AVC reforça cuidado com a saúde após infecção da Covid-19

Vanessa Bayma

vanessabayma@canaltres.com.br

MANAUS – AM | O dia 29 de outubro é conhecido como o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 17,9 milhões de pessoas morreram em decorrência de problemas cardiovasculares em 2019, sendo, desses óbitos, 85% ocasionados por ataques cardíacos e AVC. Com a pandemia da Covid-19, houve um aumento da incidência da doença, o que gerou ainda mais atenção por atingir não somente pessoas que já possuíam problemas do tipo, mas inclusive jovens.

De acordo com publicação do Jornal da Universidade de São Paulo (USP), com informações do professor de medicina Octávio Pontes Neto, no ano passado médicos norte-americanos registraram um aumento sete vezes maior de AVC isquêmico em jovens, menores de 50 anos, sem comorbidades. É que o aumento de casos de Covid-1, uma doença agressiva e inflamatória, gerou muitas complicações tromboembólicas (formação de coágulo de sangue dentro das veias) em diversos órgãos do corpo.

O médico cardiologista intervencionista Marcus Grangeiro, diretor presidente do Hospital Universitário Francisca Mendes, em Manaus, informou que não foi incomum ver pessoas mais novas com a doença.

“A Covid-19, o Sars-Cov-2, não fica restrito a uma infecção pulmonar, mas é uma infecção sistêmica e todos os nossos sistemas estão interligados e houve muito desses fenômenos trombóticos. Houve, sim, um aumento do número de casos em pacientes mais jovens, na faixa dos 30 anos, por exemplo”, explicou o médico cardiologista.

Cardiologista Marcus Grangeiro, diretor presidente do Hospital Francisca Mendes, disse que durante a pandemia foi comum jovens com 30 anos apresentarem AVC e que covid afeta todos os sistemas do corpo humano. Foto: Divulgação

Ainda segundo ele, houve mais casos associados à covid não somente no território cerebral, mas no coração, mesentério e embolias pulmores. Com a covid, o vírus se mostrou muito agressivo em muitos casos, se espalhando por todo o corpo. Marcus Grangeiro exemplificou como é o processo no corpo do ser humano: “Na coagulação, quando sofremos um corte, por exemplo, há uma cascata de eventos que culminam com a formação de trombos. Esses trombos vão fechar aquela ferida para que a gente não perca até a nossa última gota de sangue”.

Com a inflamação e infecção muito forte em decorrência do vírus, e dependendo da saúde de cada paciente, algumas situações ficaram mais evidentes. “Nessa infecção da covid isso ficou muito exacerbado em várias áreas do nosso corpo porque o vírus se espalha, ocasionando a formação de trombos, os coágulos de sangue. Por isso a gente viu esse aumento de casos e esses coágulos migraram para coronária, cérebro, intestino, membros superiores ou inferiores porque pode acometer qualquer local do organismo”.

Além dos problemas físicos, a doença pode deixar sequelas, as quais os médicos ainda estão recebendo nos consultórios médicos. Só com o passar do tempo, a ciência terá noção de todos os eventos ocorridos no corpo pela infecção do vírus. Afinal, todos os dias surgem novas descobertas sobre ele.

Tipos de AVC

Mas e o que é o AVC e quais são os tipos? Segundo o diretor presidente do hospital Francisca Mendes, popularmente o AVC é conhecido como derrame e possui dois tipos: o isquêmico e hemorrágico. “Quando há um AVC hemorrágico é provável que uma artéria tenha estourado no cérebro e inundado de sangue o parênquima cerebral. Geralmente dá em pacientes com hipertensão. O isquêmico é um infarto cerebral, quando existe uma obstrução, um entupimento em uma das artérias do cérebro ou intracerebral, às vezes até extracerebral, e há um hipofluxo (fluxo reduzido) ou sem fluxo para o cérebro e isso produz o AVC”, disse o diretor.

O cérebro é um órgão muito sensível e vital para o funcionamento do corpo humano e a ausência de sangue e oxigênio, por cerca de seis minutos, devido à obstrução, já é suficiente para ocasionar o AVC ou outros problemas mais graves. As células neuronais começam a morrer e por isso, em alguns casos, há sequelas neurológicas incapacitantes, tornando o paciente dependente de um cuidador, serviços de assistência à saúde e reabilitação fisioterapêutica ou fonoaudiológica. Mas, em todas as situações, a gravidade do caso dependerá da extensão da lesão cerebral do paciente.

“Quanto mais rápida for a ação pra que se desobstrua essa artéria, menos risco o paciente tem de ficar com essas sequelas. Esse paciente precisa com urgência ir ao hospital se ele estiver com sintomas de hemiplegia (um lado do corpo sem se movimentar), você pedir para ele sorrir e há um evidente desvio do canto da boca, ele não consegue fechar um dos olhos e também é comum, dependendo da área cerebral atingida, uma dislalia ou uma disartria, ele não consegue falar as palavras. Ele entende você, mas ele não consegue falar. Ou ele tem uma afasia, ausência totalmente da fala”, explicou o cardiologista.

Para evitar problemas cardiovasculares e prevenir a doença, é necessária a prevenção cardiovascular: atividade física, dieta equilibrada, evitar o consumo de álcool e tabaco, controle do diabetes, pressão arterial e colesterol. O estresse também pode ser fator determinante, então atividades que ajudam a se ter uma vida mais tranquila, aliada aos cuidados falados anteriormente, são de extrema importância.

Mãe de atleta sofreu AVC hemorrágico

No último dia 25 de outubro, o atleta da seleção brasileira de ginástica, Arthur Nory, falou nas redes sociais sobre a importância do tratamento rápido para o AVC. A mãe dele, Nadna Nory, sofreu um AVC hemorrágico na parte esquerda do cérebro. Segundo ele, em postagem no Instagram, a mãe ficou com sequelas nos braços e pernas.
“Há 5 semanas minha mãe sofreu um AVC Hemorrágico na parte esquerda do cérebro, produzindo sequelas do lado direito (braço e perna). Por sorte e pelas amigas que ela tem e que estavam com ela, minha mãe recebeu um pronto atendimento e foi às pressas para o hospital…”, escreveu ele na publicação.

Por meio de vídeos e fotos, o ginasta mostrou Nadna durante o tratamento fisioterapêutico, usando cadeira de rodas e depois uma bengala. Ela também apresentou dificuldades na fala após o ocorrido. Ainda de acordo com a OMS, aproximadamente 70% dos casos de AVC geram sequelas preocupantes, sendo que 50% são necessários a ajuda de dependentes, como foi o caso da mãe do atleta.

O Brasil registra anualmente cerca de 400 mil novos casos de doenças cardiovasculares e aproximadamente 101 mil mortes provocadas pelo AVC. Em 2019, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou mais de 223 mil internações por AVC e, no mesmo ano, a doença foi responsável por 1,52 milhão de dias de internação nos hospitais públicos.

Vanessa Bayma
Vanessa Bayma
Jornalista manauara com experiência de mais de 10 anos em jornal impresso. Passou pelas redações de A Crítica e Manaus Hoje como repórter e editora. Fez parte da assessoria de comunicação da Alfândega da Receita Federal. Gosta de ouvir pessoas.

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