De onde vem o Papai Noel?

Igreja de São Nicolau, na costa mediterrânea turca, onde acredita-se ainda haver os restos mortais do santo. Foto: Ihsan Ozturk (Anadolu Agency).

Ana Cláudia Leocádio Gioia

Uma das nossas grandes descobertas, quando moramos na Turquia, foi saber que o Papai Noel nasceu por lá e não no Polo Norte. Mas não se trata do bom velhinho de vermelho entrando pelas chaminés, e sim de São Nicolau, o atual patriarca da Igreja Ortodoxa russa, também presente em várias culturas do Norte da Europa e das Américas.

Na época de seu nascimento, no século 3, aquela região da Ásia Menor era dominada pelos gregos. Nicolau nasceu na cidade de Patara, em uma família abastada. Depois, converteu-se em sacerdote, vindo a ser ordenado bispo de Mira, onde hoje está localizada a cidade de Demre, na Província de Antália, uma das regiões mais turísticas na costa mediterrânea turca.

Como a Turquia é majoritariamente islâmica, Demre, atualmente, é conhecida mais pelas peregrinações de cristãos ortodoxos (cerca de 1,5 milhão por ano), que visitam a Basílica onde se acredita haver ainda relíquias do santo. Na época em que visitamos a cidade de Antália, tivemos um contratempo e não conseguimos visitar Demre. A igreja atual foi construída sobre o que restou daquela época do bispo.

Segundo o site oficial da Igreja, em Demre, São Nicolau, desde que se tornou sacerdote, doou sua riqueza aos necessitados e ficou mais conhecido pelo trabalho de ajuda aos pobres, principalmente as crianças. Dentre as lendas, está a de que salvou três irmãs de serem vendidas como escravas, porque seus pais não tinham dotes para os respectivos casamentos. Acredita-se que foi Nicolau quem deixou meias com ouro na porta da casa dos pais das meninas, salvando-as da escravidão. Há versões de que foram três bolas de ouro.

Celebrado dia 6 de dezembro, data de sua morte, São Nicolau também é conhecido por ser o patrono dos navegantes, por conta de milagres durante as intempéries no mar. De acordo com as informações do site, o santo teve a maior parte do seu esqueleto roubada e levada para a cidade de Bari, capital da Puglia, no Sul da Itália, onde foi construída uma basílica. Lembro-me que, em visita a Bari, chegamos a visitar essa igreja, mas estava fechada, infelizmente, para uma celebração especial.

Imagem criada pelo cartunista americano Thomas Nast, em 1881, que consolidou o ícone do Natal até os dias atuais.

Como foi que esse santo, nascido na Ásia Menor, ganhou fama e foi transformado no símbolo do consumismo da sociedade atual? São várias as versões. As mais difundidas contam que a lenda que se criou em torno de sua personalidade e, depois, santidade, espalhou-se por outras regiões, chegando à Europa, onde ele é bastante celebrado, sobretudo em países como a Bélgica, a Holanda e a Alemanha. Neste último, as crianças, no dia 6 de dezembro, e não no dia 24, põem suas botas nas janelas esperando pelos presentes do bom velhinho.

Com a descoberta do Novo Mundo, Cristóvão Colombo nomeou de São Nicolau um lugar do Haiti, em que chegou no dia festivo do santo. Porém, foi somente no século 18 que essa lenda chegou aos Estados Unidos, cuja celebração era feita por famílias holandesas em Nova Iorque, cidade da qual também é patrono atualmente. Cabe notar que Nicolau também é o patrono da Igreja Ortodoxa da Rússia. De acordo com o site “history.com”, o nome “Santa Claus” (Papai Noel em inglês) é, na verdade, apelido dado ao santo em holandês, “Sinter Klass”, uma abreviatura de “Sint Nicolaas”.

Em português, chamamos Papai Noel e não Santa Claus, por influência da língua francesa, onde Nöel significa Natal, ou seja, Pai Natal.

A partir de então, a celebração ganhou força nos EUA, mas Santa Claus tinha uma outra imagem. A partir de 1820, iniciou-se a massificação do uso do santo para atrair clientes para as lojas e, logicamente, as crianças. Ainda de acordo com o site History, um poema de Natal escrito para suas três filhas, pelo ministro episcopal Clement Clarke Moore, intitulado “An Account of a Visit from St. Nicholas” (Um relato de uma visita de São Nicolau, em tradução livre), consolidou a ideia que temos hoje do Papai Noel.

Foi no poema que se firmou o ícone americano do velhinho viajando de trenó, conduzido por oito renas, e que sobe as chaminés para deixar o presente para as crianças que foram merecedoras naquele ano. Os escritos de Moore inspiraram o cartunista Thomas Nast, em 1881, a desenhar o Papai Noel tal qual conhecemos hoje: um senhorzinho rechonchudo, em roupas vermelhas brilhantes, barba branca longa e com um saco cheio de brinquedos, além da famosa oficina no Polo Norte, elfos e uma esposa, a Mamãe Noel.

Nos países de língua portuguesa não se chama Santa Claus, e sim Papai Noel, uma influência francesa onde Nöel significa Natal. O « Père Nöel » francês é traduzido, para nós, como Pai Natal.

O intrigante de tudo isso é como um bispo benfeitor, que se desfez, séculos atrás, de toda a sua riqueza para ajudar os pobres, foi transformado ao longo do tempo no ícone do estímulo ao consumismo da sociedade atual. Uma figura que torna impensável um Natal sem a magia das cartinhas das crianças e ansiedade delas para saber se foram merecedoras de ganhar um presente. Viva São Nicolau!

Ana Cláudia Leocádio Gioia
Ana Cláudia Leocádio Gioia
Graduada em Cozinha pelo Institut Le Cordon Bleu de Paris, em Gastronomia pelo Iesb-Brasília. Especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

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