ALERTA VERMELHO: Nove vacinas obrigatórias apresentam queda, com risco de retorno das doenças

Nove vacinas obrigatórias para crianças de até um ano estão com cobertura em queda livre. FOTO: Reprodução.

Jacira Oliveira
Especial para o CANAL TRÊS

MANAUS – | O alerta vermelho lançado este mês pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Unicef, diante do retrocesso contínuo nas vacinações infantis, em 30 anos, encontra respaldo nos números oficiais de imunização infantil em Manaus, elaborados pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa). De acordo com o órgão, todas as coberturas vacinais disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) sofreram queda nos últimos anos.

A série histórica mostra os percentuais de público alvo atingido de 2014 a 2021 e foi apresentada em março deste ano, durante o Fórum de vacinação organizado em Manaus, exatamente para discutir estratégia para o resgate da confiança nos fluxos de vacinação como melhor caminho para evitar doenças imunopreveníveis. A queda na cobertura vacinal aumenta o risco de reaparecimento de doenças como sarampo e poliomielite. Já houve, inclusive, surtos de sarampo em São Paulo e Manaus, em 2018, e este ano em outras cidades brasileiras, principalmente no sudeste do país.

A vacina contra a malária é a que tem o pior índice.

A série histórica de 2014 a 2021 mostra que, em Manaus, as nove principais vacinas aplicadas no primeiro ano de vida tiveram queda de cobertura neste período. Apenas a BCG – protege contra formas graves da tuberculose – que é aplicada logo após o nascimento, se mantém acima da meta, mas caiu de 134%, em 2014, para 98,6% em 2021. As vacinas contra rotavírus humano, a hepatite A, a poliomielite e a vacina pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pelo haemophilus influenzae tipo B) têm apenas 70% de cobertura; e a meningococo C e as vacinas pneumocócica e tríplice viral D1 (sarampo, rubéola e caxumba) têm apenas 80%. O pior índice está com a vacina contra febre amarela, com 55%.


Somam-se a essas, as vacinas contra influenza (cuja campanha ainda está em andamento) e contra Covid-19, que incluíram, recentemente, as crianças a partir de 3 anos de idade.

A estratégia adotada pela Semsa, diante da comprovação das baixas coberturas vacinais para a maioria das vacinas do calendário básico foi a realização de campanha publicitária de incentivo à vacinação, lançada em março, com peças em rádio, TV, outdoor, lonas, inclusive imã de geladeira, com todas as vacinas para o público de 0 a 14 anos.

Também a partir de março, a Semsa vem realizado dias de intensificação de vacinação, ampliando os números de postos fixos e criação de postos volantes, além da busca ativa de pessoas não vacinadas.

Alerta no mundo – De acordo com a OMS, a porcentagem de crianças que receberam três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3) – um marcador de cobertura vacinal dentro dos países e entre eles – caiu cinco pontos percentuais entre 2019 e 2021, para 81%. Como resultado, 25 milhões de crianças perderam uma ou mais doses de DTP por meio de serviços de vacinação de rotina, somente em 2021. São 2 milhões a mais do que em 2020 e 6 milhões a mais do que em 2019, destacando o número crescente de crianças em risco de doenças devastadoras, mas evitáveis.

Dezoito milhões desses 25 milhões de crianças não receberam uma única dose de DTP durante o ano, a grande maioria das quais vive em países de baixa e média renda, como Índia, Nigéria, Indonésia, Etiópia e Filipinas, registrando os números mais altos. Entre os países com os maiores aumentos relativos no número de crianças que não receberam uma única vacina entre 2019 e 2021 estão Mianmar e Moçambique.

O declínio deveu-se a muitos fatores, incluindo um número crescente de crianças que vivem em ambientes de conflito e de vulnerabilidade– onde o acesso à imunização é muitas vezes desafiador –, aumento da desinformação e desafios relacionados à Covid-19, como interrupções de serviços e da cadeia de suprimentos, desvio de recursos para resposta à pandemia e medidas de prevenção que limitavam o acesso e a disponibilidade do serviço de imunização.

As vacinas no Brasil – A primeira vacina a ficar disponível para os brasileiros foi contra a varíola, em 1796, mas demorou mais de um século para que ela, de fato, fosse aceita pela população e, somente após um grande surto de varíola, no Rio de Janeiro, em 1908.
O marco para a mudança nos perfis epidemiológico das doenças imunopreviníveis veio com a criação do Programa Nacional de Imunização (PNI) em 1973 e, quatro anos depois, o primeiro calendário de imunização que previa a aplicação de quatro vacinas em crianças de até 1 anos de idade. Hoje são ofertados 19 tipos de vacinas na rede básica de saúde, para todas as faixas etárias.

O sarampo foi uma das doenças que voltou com toda a carga, apresentando surtos em cidades brasileiras em 2018 e em 2021. FOTO: Reprodução.
Jacira Oliveira
Jacira Oliveira
Jacira Oliveira é jornalista, tendo atuado em redação dos principais grupos de comunicação do Amazonas além de assessorias de comunicação de instituições federais, estaduais e municipais. É graduada em Ciência Política e está concluindo a pós-graduação também em Ciência Política.

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