“A literatura trans deveria ser mais atuante”, diz escritora amazonense Márcia Antonelli

Márcia Antonelli defende uma literatura trans mais atuante. FOTO: Canal Três.

GEIZYARA BRANDÃO

geizyarabrandao@canaltrês.com.br

MANAUS – | Autora de obras como “Doze Contos Amazônicos”, “A Fuga”, “Textículos de Gatos” e “O Desentupidor de Fossas”, Márcia Antonelli vende seus livros nas proximidades do centro histórico da capital amazonense. Formada em Letras pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a escritora ressalta que “escrever literatura é um ato audacioso e a literatura trans deveria ser mais atuante”.

“Preciso resistir e existir nessa cidade. Manaus não é uma cidade qualquer, Manaus é um desafio para todo mundo, para quem escreve, principalmente. Ninguém escreve à toa. Eu escrevo porque eu existo, porque eu vivo nessa cidade, eu tento me conhecer e conhecer a cidade. Então isso é importante no processo de criação de qualquer coisa”, contou Márcia.

A escritora aponta que uma das dificuldades enfrentadas é o fato de o brasileiro não gostar de ler. “Aqui no Amazonas, em Manaus, é crônica a falta de leitura. Muitas vezes eu sou vista como uma travesti vendendo panfletos, é o que se deduz. As pessoas falam ‘vou comprar para te ajudar’, algumas compram e no outro dia que eu encontro, nem leram. É irritante isso. As pessoas têm que ter respeito por aquelas que fazem arte. Ainda que não comprem, mas ouçam”, desabafou.

Márcia Antonelli revela que, apesar das dificuldades, não pensa em parar de escrever e que muitos turistas compram suas obras, que são vendidas a R$10. Em uma noite, ela costuma vender aproximadamente dez livretos. “Tem pessoas que compram também via e-mail. Pessoas de outros lugares, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais”, disse.

Inspiração – A escritora afirma que se inspira nas vivências da zona vermelha e portuária de Manaus para escrever suas obras. “É uma zona semi-morta, porque a partir do olhar do poeta ou de quem se arvora a escrever, isso se torna uma vida. Gosto de observar o movimento das pessoas, um movimento fascinante. É um movimento que se abre, foi daí que escrevi ‘O Anão do Açougue’, que mistura realismo com a ficção”, relatou.

Para Márcia, aqueles que querem escrever têm que encarar e se entregar verdadeiramente ao ofício da escrita. “É se entregar ao ofício da vida, viver, sentir, chorar, morrer. Escrever é morrer. É perceber as coisas que morrem, mas que se regeneram rapidamente. Eu morro e vivo ao mesmo tempo. Quando estou morta é porque não estou escrevendo e quando estou viva, respirando, é quando estou escrevendo”, enfatizou.

A escritora ressalta que o “ímpeto da escrita” começa quando se percebe o que acontece ao redor, assim como outras esferas da arte como a pintura, composição, escultura. “Passam a criar a partir da existência, quando elas percebem que existem coisas em torno dela, quando as coisas passam a fazer sentido”, destacou.

Origem – No seu processo de descoberta como escritora, Márcia conta que o interesse surgiu ainda quando era criança, por meio da mãe, dona Eunice, que tinha como livro de cabeceira “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz. “Como eu dormia no mesmo quarto, eu olhava minha mãe ler, muito séria, muito envolvida com a leitura. Mais tarde comecei a rabiscar o que vinha na minha cabeça, os filmes que eu via, da minha maneira, do meu olhar”, comentou.

Posteriormente, Márcia se aprofundou na leitura com livros da literatura brasileira, russa, até entrar na faculdade de Letras, onde, por meio da prática, foi se aperfeiçoando, sendo editora e colaboradora da revista Sirrose (2001-2011).

Vendas – Para adquirir qualquer uma das obras da escritora Márcia Antonelli, basta entrar em contato pelo telefone (92) 98486-7320 ou pelo e-mail revistasirrose@bol.com.br.

Geizyara Brandão
Geizyara Brandão
Jornalista há dez anos, passou por redações de impresso, portal, TV, além de assessoria de imprensa. Formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com pós-graduação em Assessoria e Mídias Digitais pela Faculdade Boas Novas.

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