A Cozinha que nos transformaㅤㅤㅤㅤㅤㅤ

Ana Cláudia com um 'Curry d'agneau', prato do famoso restaurante La Coupole, em Paris. Foto: Ana Cláudia Leocádio

Por Ana Cláudia Leocádio Gioia

Quando Mário Quintana afirmou que “viajar é mudar a roupa da alma”, ele realmente sabia do que estava falando. Há 11 anos começamos essa aventura de troca de país, de cidade, de apartamento, de ares e por que não, de alma também. E foi justamente na saudade que essas mudanças nos implicam, que comecei a me interessar pela Gastronomia, pelos sabores e as técnicas que cada povo aplica para tirar o melhor dos ingredientes. Era uma forma também de lembrar dos nossos sabores amazônicos, que faltavam naquelas paragens.

Calma, não ganhamos na loteria e resolvemos ganhar o mundo em hotéis cinco estrelas. As constantes mudanças são em decorrência do trabalho do meu marido, a quem decidi acompanhar e, assim, busquei me reinventar em outra seara além do jornalismo, profissão que amo, dedicando-me agora à Cozinha.

O interesse começou em 2011, na Turquia, país na Ásia Menor, que foi berço de grandes civilizações, sede do Império Romano do Oriente até 1453, quando foi conquistada pelo sultão Mohammed II, dando lugar ao Império Otomano. Após o final da Primeira Guerra Mundial, as grandes possessões de terras foram redefinidas e o país ficou com o território da atual Turquia.

Longe das pautas e do frenesi das redações, ali comecei a prestar mais atenção ao que se coloca na mesa de cada dia, os diferentes pratos, os tipos de ingredientes por região, sem falar nas combinações de especiarias utilizadas, como se fossem porções mágicas transformando os conteúdos das panelas. Filha de uma cozinheira de mão cheia, queria também colocar a mão na massa.

Na Capadócia, especiarias chamam a atenção pela variedade nos mercados. Foto: Ana Cláudia Leocádio

Depois, vivemos na Nigéria, o berço de nascimento do que se conhece no Brasil como Candomblé, que deriva dos cultos praticados pela grande nação Yorubá. Do acará ao azeite de dendê, passando pelo gari, uma farinha de mandioca fina que eles utilizam para fazer o fufu (um tipo de papa maleável para acompanhar as refeições), pudemos conhecer a grande conexão que temos com aquele caldeirão cultural nigeriano.

Giwan Ruwa assado na brasa, feito na Nigéria. É conhecido como o 'Rei das águas'. Foto: Ana Cláudia Leocádio

Mas foi o curso de tecnólogo em Gastronomia, no Iesb de Brasília, que me acrescentou ainda mais curiosidade sobre Cozinha e sua importância na agenda econômica de um povo e na qualidade do que se põe no prato. Como se juntasse a fome com a vontade comer, após a Nigéria, fomos transferidos para a França, onde me graduei em Cozinha, no renomado Institut Le Cordon Bleu de Paris.

A França realmente faz jus a tudo que conhecemos sobre a importância da Cozinha na vida de um povo, onde se aplica todo um conhecimento para se chegar à perfeição nos pratos, o famoso “savoir faire” e a “art de la table”. Não existe um produto, um ingrediente que eles não coloquem em evidência, valorizando o produtor para garantir a qualidade de tudo que chega aos mercados.

E foi pensando em tudo que vivi e aprendi que, agora, ao chegar à Jamaica, nosso quarto posto nessa aventura, que decidi compartilhar um pouco do que a Cozinha pode nos dar de melhor, indo além daquele espaço quente nas nossas casas. Cozinha com ‘C’ maiúsculo vai muito além, incentivando cadeias produtivas, melhorando a renda de cada produtor e, lógico, nos proporcionando momentos memoráveis em torno da mesa.

Mal chegamos aqui e já estou gostando dos produtos que encontramos nas feiras dos produtores familiares e mercados, pois me aproximam muito do Amazonas, com suas frutas tropicais, além das exóticas. É mais um desafio que se impõe nessa nova adaptação, mas espero que além de mudar a roupa da alma, conseguir fazer boas descobertas para compartilhar com vocês aqui neste espaço.

*Ana Cláudia Leocádio é jornalista e cozinheira

Ana Cláudia Leocádio Gioia
Ana Cláudia Leocádio Gioia
Graduada em Cozinha pelo Institut Le Cordon Bleu de Paris, em Gastronomia pelo Iesb-Brasília. Especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

7 COMENTÁRIOS

  1. Colega Ana Leocádio, que bom tê-la de volta, desta vez escrevendo sobre culinária. Que belo texto de apresentação. Me senti nos lugares por onde passastes saboreando a comida local. Parabéns!

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