A Copa do Mundo e a Relativização da homofobia

A Copa do Mundo é o maior evento esportivo futebolístico do planeta, já em sua 21° edição. É inegável que se trate do esporte mais popular e icônico, cuja relevância e impacto cultural não podem ser mensurados, além de sua influência no meio econômico, responsável por empregar milhões de pessoas. A FIFA (Federação Internacional de Futebol) é o grupo fundador e idealizador que organiza e realiza o evento. Logo, a Copa do Mundo é como uma grande festividade apreciada por milhares de pessoas, das mais diversas culturas e etnias, e isso só é possível porque o Futebol nos une.

Quem nunca sonhou em viajar a um dos países sede? Presenciar o espetáculo ao vivo e em cores de um gol do Brasil? A emoção dos pênaltis? Mais as maravilhas de um país estrangeiro? Por isso, em minha opinião, é indispensável que a FIFA possua critérios bem estabelecidos para eleger países que sejam aptos a receber o evento; Questões como estrutura e economia são o principal foco, mas a segurança do torcedor é crucial, o país sede deve ser um estado que não condene a existência de grupos plurais, visto que em um mundo moderno, em que a cada dia se debate mais sobre diversidade e sociedades há muito excluídas e marginalizadas ganham espaço para ser e existir, é inadmissível que a FIFA permita que a Copa seja sediada pelo Qatar, um dos 69 países que criminaliza indivíduos da comunidade LGBTQIA+.

O Qatar é o país mais rico do Oriente Médio, mas essa riqueza não traz consigo o valor de respeitar ou mesmo tolerar aquilo que é diferente. Em 2020, nas primeiras entrevistas com membros nativos da comissão e políticos em cargo de poder, foi dito que a comunidade LGBT seria recebida e acolhida, tendo suas demonstrações de afeto e símbolos respeitados. Mas em declarações mais recentes, datando os anos de 2021 e 2022, voltaram atrás ao pedir que não sejam feitas demonstrações de afeto em público de qualquer natureza, vetam o porte de bandeiras dos grupos em estádios e que não podem garantir a segurança de um torcedor homoafetivo.

Me indigna saber que a FIFA permita que a Copa seja realizada em um país que vai contra as recomendações da ONU sobre direitos humanos e LGBT. É no mínimo lamentável que ocorra tamanha relativização da homofobia em nome de interesses que estão por trás dos panos, visto a quantidade de dinheiro envolvida em se realizar um evento de tal porte em um dos países com maior poder aquisitivo do planeta. Milhares de notas de papel com rostos e números tatuados valem mais que a existência de uma comunidade inteira de pessoas, cujas vidas valem tanto quanto de qualquer outra, e isso me entristece.

O mesmo fato ocorreu na última edição em 2018, na Rússia, outro estado declaradamente homofóbico que não sofreu com medidas da FIFA, que em teoria possui políticas e regras que promovem a tolerância, e quatro anos depois estamos estagnados na mesma problemática, trocando-se apenas as variáveis. Não devemos ser tolerantes com os intolerantes, um famoso paradoxo, mas certeiro em declarar que aqueles que ferem os direitos fundamentais de outros seres humanos não devem pactuar com eventos que abrigam uma quantidade tão diversa de pessoas, é necessário que haja espaço para todos, pois o futebol é um patrimônio imaterial da humanidade, independente de raça, religião, gênero, sexo ou orientação sexual.

Autora: Maria Fernanda Braga de Oliveira, acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Santa Teresa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui