Vanessa Bayma
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MANAUS – | Todos os 62 municípios do Amazonas possuem áreas consideradas de risco “alto” ou “muito alto” para ocorrências de desastres geológicos. O mapeamento, com atualização concluída no início deste ano, foi feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). Problemas de deslizamentos, erosões, inundações, desbarrancamentos, entre outros, foram apontados no trabalho, em todos os municípios listados.
De acordo com o pesquisador em geociências do órgão, Marco Antônio de Oliveira, a cada ano que passa os problemas aumentam nas regiões já identificadas e a população em risco se torna maior. O objetivo do mapeamento, diz ele, é identificar os locais e informar às prefeituras dos municípios, para que as providências sejam tomadas. O CPRM gera, ainda, informações técnicas para indicar sugestões gerais de intervenção e, assim, evitar possíveis desastres.
“Todos os municípios do Amazonas possuem essas áreas catalogadas com risco geológico. Nos municípios do interior, perto do Rio Juruá, vimos bastante desbarrancamento e, também, terras caídas”, explicou o pesquisador. Segundo ele, as terras caídas são uma erosão iniciada pela água nas margens dos rios, muito comum nas comunidades ribeirinhas. As inundações, no entanto, ele diz que também vêm aumentando.
O mapeamento das áreas de risco do Amazonas foi concluído em janeiro, com a atualização dos dados de Carauari, Guajará, Ipixuna, Juruá, Itacoatiara, Itapiranga e Silves. Em Carauari, por exemplo, o número de imóveis em áreas perigosas saiu de 53 em 2013, no último levantamento, para 334 em 2021. No município, conforme o pesquisador, entre fevereiro e maio, influenciado pelo rio Juruá, ocorre a inundação das áreas mais baixas, ocasionando também a erosão dos barrancos e deslizamentos de terra. Atualmente, cerca de 1.336 pessoas moram na margem dessas áreas onde ocorrem fenômenos naturais, que podem causar risco de vida.
Em Ipixuna, foram mapeados 650 imóveis em áreas de risco com grau “alto” e 125 com grau “muito alto”. De acordo com Marco Antônio, o número aproximado de famílias vivendo no local é de 2,6 mil pessoas. Todos os anos, por causa da cheia sazonal do rio Juruá, as famílias permanecem com água nas casas por, pelo menos, 30 dias. Em conjunto, a erosão fluvial vai aumentando e criando enormes barrancos.
“Os ribeirinhos já sabem dos riscos. Nas casas de madeira, quando a erosão vai cedendo, eles puxam as casas mais para trás. Agora, na zona mais urbana, fica mais complicado, porque são mais imóveis e mais pessoas”, apontou o pesquisador.
Em Guajará, desde a última atualização do mapeamento, em 2013, não havia locais de risco “muito alto” identificados. No ano passado, essa situação mudou de figura, com 25 áreas e aproximadamente 100 pessoas morando nesses locais. Com risco alto, são 155, tendo 620 moradores na área.
Em todos esses casos e na maioria dos municípios, segundo o pesquisador em geociências, foi sugerida a intervenção das moradias, principalmente, nas com menos de 12 metros de distância do rio. Além disso, foi pedida a avaliação de remoção e realocação temporária dos moradores. “Podemos prever onde vai acontecer, mas não quando. Então, as autoridades precisam agir, porque a categoria dos riscos é R-4, muito alta. E o importante é salvar as vidas”, alertou.
Procurada, a Defesa Civil do Estado do Amazonas ressaltou que ainda não foi informada pelo CPRM sobre o mapeamento, mas que o Centro de Monitoramento e Alerta deve entrar em contato para ter conhecimento mais profundo sobre os pontos e áreas de risco nos municípios.
O mapeamento
O mapeamento já foi realizado pelo Brasil em 1604 municípios, sendo 205 revisitados no ano passado. Além dos municípios do Amazonas que tiveram os dados atualizados em janeiro, também foram incluídos Antônio Carlos (SC), Caxambu e Ewbank da Câmara, Matias Barbosa e Soledade de Minas (MG), Igarassu (PE) e Monte Alegre (PA).