Vanessa Bayma
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MANAUS – O ano de 2022 será de poucos lançamentos imobiliários e redução em vendas no segmento, segundo a projeção do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas (Sinduscon-AM), Frank do Carmo Souza. O setor da construção, disse ele, tem sido afetado diretamente desde o início da pandemia de Covid-19, com o aumento dos insumos e a inflação.
O Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou alta de 18,65% em 2021. O Norte do país apresentou alta de 0,81%, na média mensal, seguido do Nordeste, com 0,66%; Centro-Oeste, com 0,61%; Sul, com 0,53%; e Sudeste, com 0,32%.
De acordo com o presidente do Sinduscon, o aumento do custo dos materiais para construção civil começou a ser observado ainda em junho de 2020, impactando o setor em 2021. “Até o final de 2021 ficou muito elevado o valor do metro quadrado. Passou de 30% e depois para 45%”, explicou Frank Souza.
Em dezembro de 2021, ainda de acordo com dados do IBGE, o custo nacional da construção por metro quadrado ficou em R$ 1.514,52, sendo R$ 910,06 relativos aos materiais e R$ 604,46 à mão de obra.
Na avaliação do presidente do Sinduscon, assim como ficou mais caro para o incorporador, também ficou para o consumidor, aquela pessoa que quer comprar um imóvel, por exemplo. No Amazonas, o custo do metro quadrado ficou em R$ 1,4 mil.
“No final de 2020 a taxa Selic fechou em 2% e, em 2021, em 9,25%. Isso influencia diretamente para quem vai comprar um imóvel e pesa nas parcelas do financiamento. Para a construtora, esses valores influenciaram também diretamente na construção, que fica mais cara”, apontou.
As taxas Selic são usadas para empréstimos e financiamentos. No segundo caso, o valor do imóvel, somado aos juros, fica ainda maior.
De acordo com cálculo do Sinduscon/SP em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito recentemente, há um ano era possível contratar um financiamento de R$ 200 mil para compra da casa própria, com juros de 6,2% ao ano. A renda mínima da família teria que ser de R$ 5,2 mil, gerando parcela de R$ 1,5 mil.
Hoje, o mesmo empréstimo terá taxa de 9% ao ano, o que demanda uma renda de R$ 6,6 mil (27% maior) e parcela de R$ 2 mil (33% maior), segundo o cálculo da Sinduscon/FVS.
“O que está puxando isso tudo é a inflação em 2021, que fechou em 10%. E o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que ficou em 14%. O poder de aquisição das pessoas diminuiu e a população não vai ter condições de comprar”, avalia.
No Amazonas, outro ponto que chama atenção é em relação às construções serem em grande parte, atualmente, do programa Casa Verde e Amarela, antes conhecido como Minha Casa Minha Vida. O financiamento é feito pela Caixa Econômica Federal.
Frank Souza explica que os valores são fixados pela Caixa e os apartamentos, com média de 42 a 45 metros quadrados, estão ficando cada vez mais caros e em regiões mais distantes do Centro da cidade. “São empreendimentos a partir de 500 unidades, que precisam de terrenos maiores, e nas regiões mais centrais não há mais locais com esse espaço”.
Na teoria, os valores teriam que ser menores, mas Souza explica que justamente a inflação tem sido um fator complicador. Se nos empreendimentos mais acessíveis há dificuldade na aquisição de uma unidade, o mesmo acontece com os modelos de habitação para classes sociais mais elevadas.
“Hoje, 68% dos custos são com material e 38% com mão de obra. O padrão de moradia médio-alta está bem reduzido e temos que aguardar o ano de 2022 para ver como o mercado se comporta”.