Vanessa Bayma
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MANAUS – AM | “A impressão que eu tinha é que iria ficar careca. Me dava um desespero”. O desabafo é da jornalista Daniele Brito, que contraiu Covid-19 no início deste ano, logo após a crise de oxigênio no Amazonas. A queda de cabelo, chamada de eflúvio telógeno, tem sido uma das principais queixas nos consultórios dermatológicos, relacionadas à infecção pelo coronavírus, geralmente cerca de um a três meses depois do adoecimento.
A jornalista ficou internada durante dez dias no hospital e, no decorrer do tempo, notou uma grande perda de volume dos fios. Após uns meses, a situação piorou, a fazendo procurar tratamento médico adequado. Segundo ela, no entanto, foi um longo período até chegar, finalmente, na cura do problema. “Caía tanto que toda vez que eu tomava banho, tinha que limpar o ralo porque ficava quase impossível de escorrer a água. Depois, notei que foi quebrando o meu cabelo e tive que cortá-lo curto”, explicou ela.
Segundo a dermatologista Suzi Maron, o sintoma é comum devido à agressividade da doença, normalmente acompanhada de febre, fator primordial para ocasionar a queda: “Todas as doenças que tenham o cunho principalmente febril, como a Covid, têm um impacto no ciclo capilar, mudando esse cronograma de crescimento. O fato de ser em mulheres pode ter a ver com a prevalência, a própria epidemiologia da doença, mas também ao fato de outros problemas que normalmente só descobrimos na consulta, como por exemplo, deficiências nutricionais. Além de, nas mulheres, por terem o cabelo mais comprido, ser mais comum de ver o eflúvio”, explicou a médica dermatologista.
O fio tem três fases de crescimento: anágena (fio em crescimento), catágena (fio maduro ainda no folículo) e telógena (fio em queda já destacado do folículo). A maioria dos fios está em fase de crescimento no couro cabelo. O problema ocorre quando, por alguma razão, como a infecção do coronavírus, os fios que deveriam estar em fase de crescimento vão direto para a fase de queda.
Ajuda especializada
Como os cabelos fazem parte da vaidade da maioria das mulheres, afetando a autoestima, logo após os primeiros sinais, normalmente, o médico é procurado. “Já tive pacientes que tiveram covid, começaram a ter um pouquinho de queda de cabelo, e logo na sequência já procuraram uma ajuda porque sabem que vai evoluir o problema”, disse a médica.
A dermatologista explica que o diagnóstico é fundamental, até mesmo para evitar problemas futuros ou crônicos – se houver predisposição, associada a outras doenças que a pessoa tem ou desenvolveu. É que a doença serve como “gatilho” para outras enfermidades de couro cabeludo que tenham a característica de serem crônicas. No entanto, o eflúvio telógeno pós-covid, por si só, se manifesta entre um a três meses após a doença e pode durar entre dois e três meses, não sendo crônico.
Mas, como para qualquer outra doença, é necessário um alerta: “Não é incomum eu atender pacientes que abriram um quadro de eflúvio telógeno pós-covid junto com outras doenças, as quais já tinha predisposição genética, e aí o covid desperta essa outra doença e a manifestação fica ainda mais assustadora em termos de queda de cabelo. E não é qualquer suplemento de farmácia que vai ajudar, tem que ter o tratamento adequado”, explicou.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a covid gerou uma infinidade de complicações, entre pulmonares, cardíacas e dermatológicas, embora os estudos científicos de causa e efeito para a nova doença ainda estejam sendo concluídos. No entanto, fatores como estresse, alimentação desequilibrada e falta de vitaminas após a doença já são descritos como impulsionadores do problema.
A boa notícia é que o tratamento, na maioria das vezes, é acessível e, se priorizado pelo paciente, será bem benéfico. “Usamos medicações via oral, tópicas e também procedimentos injetáveis em que colocamos medicações específicas dentro do folículo para estimular o crescimento. É um resultado, inclusive, mais rápido”, pontuou.
No entanto, mesmo que a pessoa não tenha tido covid, a recomendação é, sempre, em caso de muita queda de cabelo, procurar ajuda: “Cabelo é coisa séria, a maioria dos casos pós-covid se recuperam bem, mas só a gente com olhar técnico, exame físico e uma boa anamnese é que vai saber se aquilo está relacionado à covid ou se tem outras situações junto”.
E, para quem acha que dar uma passada no salão de beleza e diminuir o tamanho vai ajudar, a especialista explica que é puro mito: “Não vai ajudar. Quando cortamos o cabelo, na verdade tiramos o comprimento da fibra morta, que é o cabelo em si. Isso não vai afetar em nada a queda. O que faz a diferença é tratar o couro cabeludo, onde estão inseridos os folículos pilosos, que são as unidades vivas de cabelo que o fazem crescer e são atingidos pela doença”.
Terapia capilar como aliada da medicina
Passado o tempo de tratamento médico, a terapia capilar tem sido bastante utilizada como suporte, ajudando em um resultado mais rápido e satisfatório, como explica o terapeuta capilar Saymon Moura. “O resultado para um eflúvio telógeno já com o tratamento médico e o terapêutico é bem mais rápido. Conseguimos normalizar a queda e depois estimular o crescimento”, explicou o terapeuta.
A terapia capilar é uma profissão nova que trata diversas funções do couro cabeludo e de fibra capilar. É um tratamento feito de forma integrativa em que podem ser tratadas outras partes do corpo também, porque algumas patologias que aparecem no couro cabeludo surgem em outras áreas. É trabalhada a resolução da enfermidade, o relaxamento da pessoa e o embelezamento, uma vez que as mulheres, principalmente, reclamam de fios mais finos, sem volume e sem vida.
Numa sessão, o terapeuta capilar fica responsável por fazer uma anamnese onde é preenchida uma ficha com perguntas que ajudem a identificar o problema. Após isso, é usado o tricoscópio. “Com ele, conseguimos visualizar bem o couro cabeludo e a fibra, para ter uma melhor visualização do que está acontecendo. A partir disso, iniciamos o tratamento adequado usando fitoterápicos que vão tratar o problema e também os produtos para embelezamento dos fios”, disse.
Saymon Moura informou, ainda, que são usadas ampolas e são indicados produtos de home care especificamente para cada caso. “Na mesma sessão, eu consigo realizar o tratamento tanto do couro cabelo quanto da fibra capilar. Finalizo o cabelo e a pessoa tem sua autoestima elevada”.
Finalizando, também é possível fazer o tratamento com a aromaterapia, onde são usados óleos essenciais em conjunto com óleos vegetais. Nessa terapia, é tratado o corpo, o couro cabeludo e a fibra, além de ajudar na ansiedade e estresse. Os óleos também são de uso extremamente importantes em caso de descamação e inflamação, além de prevenir casos de oleosidade tanto na pele quanto na cabeça.
*Para mais informações com a médica dermatologista Suzi Maron é só procurar no Instagram o perfil @dermato.suzimaron. Para falar com Saymon Moura, ele atende na Etre Clinic (@etreclinic) e seu perfil profissional é @saymonterapia.