Pandemia, desigualdades e tripla jornada: antigos e novos desafios da mulher no mercado de trabalho

Mulheres enfrentam novos e antigos desafios para se manter no mercado de trabalho com a chegada do home office. Foto: Reprodução

MANAUS – | Dia Internacional da Mulher chegando e aquela pautinha sai da gaveta para anunciar que elas estão conquistando e dominando o mundo, ocupando postos de comando e o seu lugar no mercado de trabalho, e não faltarão cases de sucesso para ilustrar a matéria. Trazemos péssimas e más notícias e umas poucas e boas, também.

As mulheres foram profundamente afetadas pela pandemia de Covid-19 e atingiram o nível mais baixo de participação no mercado de trabalho desde 1990. Mesmo antes da pandemia, já estavam em risco de mudar o status de empregada para desempregada e com menor chances de ser contratada. Hoje, as mulheres são 60,8% da “Força de Trabalho Potencial”, um termo técnico para “banco de reserva”.

Os dados são do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e refletem os primeiros meses da pandemia. O novo, retratando 2021, deverá ser publicado nos próximos dias, com possíveis alterações nos percentuais, uma vez que os empregos, de forma geral, começaram a ser recuperados, mas dificilmente trarão uma alteração de rota a curto prazo, como preveem os próprios pesquisadores do Ipea.

As mulheres podem recuperar seus postos de trabalho? Sim. Mas, para isso, é preciso que a pandemia acabe, que a vacinação alcance a população total e que as mulheres se readequem aos velhos e novos desafios do mercado.

Em geral, as mulheres estavam empregadas em setores do comércio e serviço, justamente os mais afetados na pandemia. Entre os antigos problemas estão diferenças salariais, jornada tripla, assédios no local de trabalho, falta de oportunidades e de crescimento dentro das empresas e desigualdade nos cargos de chefia. Entre os novos, a exponencialização da tripla jornada de trabalho com a chegada, para valer, do home office e as mudanças de característica do próprio mercado.

Historicamente, as mulheres são vistas como cuidadoras do lar e das pessoas do seu entorno. Pesquisa Datafolha, de agosto de 2020, por exemplo, mostra que 57% delas acumularam a maior parte dos cuidados domésticos no início da pandemia. Entre homens, o percentual foi de 21%.

A mesma pesquisa mostra, ainda, que metade das mulheres se responsabilizou pelo cuidado de outra pessoa ou ofereceu algum tipo de apoio, seja um familiar (80,6%), amigo (24%) ou vizinho (11%). Isso foi acumulado com o trabalho remoto que passaram a desempenhar. Ou seja, o que estava compartimentado se misturou e sobrecarregou ainda mais a mulher.

Outro novo desafio é uma mudança nas características do mercado. Trabalhar remotamente deverá fazer parte da rotina.

A vida nos escritórios e na “firma” deve voltar, mas não como era antes. A maioria das corporações deve investir no trabalho híbrido. E isso implica em um nível de especialização e investimento em tecnologia por parte dos profissionais, liberais ou não, que queiram manter seus postos. Além disso, os novos trabalhos que estão sendo oferecidos correspondem à economia digital e elas devem se capacitar para isso.

As poucas e boas notícias são que, como o impacto é global e não localizado, organismos internacionais voltados para direitos humanos, desenvolvimento humano e econômico, bancos de investimentos internacionais e até o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão preocupadíssimos com o futuro da mulher no mercado de trabalho. Por conta disso, já começam a colocar em prática mecanismos para manter e ampliar o acesso delas, de olho em uma reserva nada desprezível e qualificada, que fora do mercado provoca impactos graves na economia. O Banco Mundial diz que mulheres empregadas e com a mesma renda dos homens aumentariam a riqueza global em US$ 172 trilhões.

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