Vanessa Bayma
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MANAUS – AM | Como será a educação após o período mais intenso da pandemia? Essa é a pergunta que muitos estudantes, pais e responsáveis têm feito para o próximo ano letivo. Em 2021, o ensino teve retorno gradativo com o “novo normal”. Nesse contexto, profissionais da educação falam sobre suas perspectivas quanto ao período após as ondas de covid.
As dificuldades durante o fechamento das instituições de ensino foram muitas, mas apesar das mudanças impostas repentinamente, um leque de opções agora são vistas da melhor forma, como o Ensino à Distância (EAD), segundo opinou a pró-reitora de ensino e graduação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Kelly Christiane Silva de Souza.
Para a pró-reitora, a pandemia trouxe a oportunidade de refletir sobre o currículo educacional e assim definir o que é possível, a partir de agora, ser digital. Sendo assim, os novos modelos, para o futuro, devem ser pensados em tecnologias educacionais, a formação docente adequada e as novas metodologias de ensino fazendo uso dessas tecnologias.
“Nas universidades, de modo geral, quando se falava de EAD, existia uma resistência porque se ligava à ideia de que não tinha qualidade no processo de aprendizagem. E a pandemia mostrou que é possível trabalhar com os modelos híbridos de aula, aulas on-line e em formato ao vivo. O professor pode garantir o protagonismo do estudante mesmo fazendo uso das novas tecnologias”, explicou a professora.
Aluno digital
Nesse processo, a especialista chama a atenção ainda para o “e-aluno”, que é o novo tipo de estudante que lida diretamente com o meio digital para suas atividades. “Entendo que no pós-pandemia as novas tecnologias não conseguem mais ficar de fora da escola. Não dá mais para dizer para o estudante da educação básica, por exemplo, que ele não pode levar o celular porque já é uma ferramenta pedagógica que faz parte das atividades. “É indispensável”, afirma”.
Com 32 anos de experiência na educação, sendo, destes, 20 anos na educação superior e 12 na educação básica, a vice-reitora ressaltou, ainda, as diferenças sociais que o educador sempre se deparou, mas que, com a pandemia, ficou ainda mais evidente.
Para ela, a tecnologia não foi o seu maior desafio e nem será, mas sim, o acesso a ela. “As novas tecnologias educacionais não eram algo desconhecido para os professores. Mas, com certeza, era para os estudantes. Então, a grande dificuldade na pandemia foi o próprio acesso à tecnologia. Com a pandemia, escancarou-se a realidade de que nem todos têm acesso a ela. Dizer que todos têm, não é verdade”, esclareceu a pró-reitora.
“Quando a gente fala da educação básica, por exemplo, a gente vê aluno que tinha um celular em casa. Um celular que o pai levava ao trabalho e essa criança tinha que ter para acompanhar as aulas, mas não conseguia. Só ia conseguir fazer e mandar tarefa, pelo WhatsApp, depois que o pai chegasse, à noite. Ou então, o pai tinha que deixar esse celular em casa”.
A dificuldade não se resumia a ter os aparelhos eletrônicos, mas também a problemas de conexão de internet, um computador para ler e escrever melhor, um smartphone com memória suficiente que suportasse tantos arquivos digitais, planos com internet no celular, entre outras ferramentas também se mostraram importantes e definitivas na construção do saber.
Modernização
Nesse sentido, o meio digital se fundiu com a nova realidade do aluno e a vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Amazonas (Sinepe-AM), professora Laura Cristina Andrade, acredita que a tecnologia veio para ficar de vez, para ajudar no retorno à escola, ao processo de aprendizagem e oferecer um interesse maior aos estudos. “Vamos estar mais bem alinhados com a tecnologia. Os livros estão mais digitais, há plataformas de inovações, ferramentas, que fazem os alunos se sentirem mais estimulados”, aposta a vice-presidente do Sinepe-AM.
A professora destaca ainda que o meio digital já estava no dia a dia de todos, o que teve de ser inserido rapidamente: “Era um mundo que já existia, mas que com a necessidade da pandemia, ele cresceu muito rápido e vem protagonizando como um estudo complementar muito importante dentro das escolas”.
“Alguns professores que não tinham muita intimidade com a tecnologia sentiram dificuldade, passaram por capacitações, treinamentos, que ficaram a cargo dos gestores das escolas que providenciaram essas ferramentas para instruir eles da melhor forma”, lembrou a professora Laura Cristina.
As aulas passaram a ser filmadas e transmitidas pelo YouTube, Zoom ou Google Meet. Atividades eram fotografadas e enviadas por e-mail, WhatsApp, Telegram ou até mesmo feitas digitalmente, dependendo dos recursos de cada escola.
A autorização para substituição das aulas presenciais pelo modelo remoto durou quase dois anos. Para as crianças e adolescentes, a última pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostrou que os impactos foram maiores, já que entre 9 em cada 10 escolas (90,1%) não retornaram às atividades presenciais em 2020. Com isso, até hoje, é um processo de readaptação.
Presencial e a distância
O modelo híbrido, onde parte das práticas pedagógicas são no ensino presencial e também online, fazem parte até hoje da Faculdade Santa Teresa (FST). Alunos que ainda não se sentem bem com o retorno total ou possuem alguma comorbidade ainda optam por essa modalidade.
No entanto, a diretora de ensino da FST, Amanda Stald, disse que como a proposta da instituição é de um ensino inovador, a coordenação de ensino e de tecnologia educacional já eram presentes e foram fundamentais durante as mudanças drásticas ocasionadas pela pandemia do coronavírus.
“Tivemos um suporte muito grande e os professores foram completamente abertos para esse ‘novo normal’, até porque sabemos que ele é o ‘novo normal’ da educação. E a tecnologia, na Santa Teresa, sempre foi utilizada para complementar o ensino e não para substituir uma disciplina”, pontuou a diretora de ensino.
Com essa prerrogativa, quando se fala em ensino superior, o ambiente digital da Santa Teresa era usado como um repositório de informações, facilitando a troca de informações entre aluno, professores e coordenadores de curso, além de informações gerais sobre a instituição.
Durante o isolamento social, esse ambiente passou a ser ainda mais utilizado, principalmente virando uma ferramenta digital diária e de uso para avaliações feitas nos cursos para obtenção de notas, por exemplo.
Também na opinião da diretora, a nova realidade veio para ficar e o professor precisou se reinventar e se reinventou. “Sempre falo que não somente precisamos estar de olho na presencialidade do aluno, para seu melhor desempenho, mas precisamos também estar em dia com a tecnologia. Um exemplo disso é a inclusão da disciplina de direito digital no curso de Direito. Porque, hoje em dia, a tecnologia está presente em qualquer profissão, evidenciou Amanda Stald.