A capacidade humana de inventar coisas pode muito bem ser ilustrada pela roda, pelos números, pelo telefone, pelo calendário, entre muitas outras invenções que mudaram o mundo. Mas será que podem ser consideradas invenções mesmo ou seriam reinvenções?
A melhor maneira de começar um artigo é com uma boa polêmica. Então, aí vai. Ninguém inventa algo do nada. “Ex nihilo nihil fit” é uma expressão latina atribuída ao filósofo grego Parménides, que significa “nada surge do nada”. Como a famosa frase que todos já escutamos em alguma aula de Química: “Na natureza nada se cria, tudo se transforma.”
Então, pensa comigo. Se nada se cria, se nada se inventa de fato e tudo realmente se transforma, podemos afirmar que toda invenção é, na verdade, uma reinvenção. Ninguém inventou a roda, por exemplo. Reinventaram a maneira que existia de se locomover e transportar coisas. O disco já existia, só nunca tinham pensado em colocar um eixo fixo nele.
O telefone tampouco foi inventado. Alexander Graham Bell apenas reinventou um novo modo de se comunicar à distância. E que, na verdade, já tinha sido reinventado antes dele por Antonio Santi Giuseppe Meucci, mas que não tinha dinheiro para patentear a ideia. Como este, poderia ficar o dia todo dando vários exemplos de reinvenções.
Trabalhando com criatividade, a gente aprende que não existe uma ideia que venha assim, do nada. Um bom criativo é aquele que tem muita informação sobre praticamente tudo, que pode conectar os conceitos mais diferentes que existem de um jeito inteligente e reinventar a maneira que temos de ver as coisas. Afinal, um copo de plástico é só um copo de plástico, até alguém furar o fundo e amarrar um barbante.
Acredito que em vez de pensarmos em inventar algo novo, em criar algo do nada, deveríamos pensar em reinventar. Pra começar um negócio, você nunca vai ser o mais inovador do mundo, com algo que ninguém nunca viu. Mas você pode muito bem transformar algo que já existe num conceito diferente.
E isso funciona também para nossa imagem pessoal. Para nossa personalidade. Todos somos reflexos de algo que já existe. Das nossas famílias, dos nossos amigos, dos nossos ídolos. Todos temos um pouco do nosso convívio. Mas podemos nos reinventar com os desafios do dia-a-dia que nos convidam a isso. Mudanças de cidade, de casa, de emprego, decepções amorosas ou apenas porque queremos nos manter atualizados com a moda. Todos já falamos coisas que não falaríamos hoje, já fizemos coisas que não fazemos mais e já fomos alguém que não somos mais hoje em dia.
Não existem inventores, mas sim descobridores, reinventores. A invenção é um mito. Mas a reinvenção é diária. É uma adaptação à vida e a tudo o que nos rodeia. Temos que aprender a deixar um pouco de lado a vontade de criar algo do nada e começar a reinventar as maneiras tradicionais de ver o mundo.
(Artigo Publicado originalmente no Portal A crítica)