Famílias de crianças com o esquema de vacinação incompleto podem ter problema para receber o Auxílio Brasil

Pediatra infectologista Solange Dourado diz que vacinação deve ser observada na fase infantil e também na adolescência. Foto: Thiago Freire/FMT – Divulgação

Vanessa Bayma

vanessabayma@canaltres.com.br

MANAUS – AM | A vacina contra H1N1 (Influenza) não atingiu, em Manaus, neste ano, a meta preconizada pelo Ministério da Saúde (MS) para o grupo de crianças de seis meses a menores de seis anos, que é de cobertura de 90%, ficando em apenas 78,1%.

O esquema vacinal completo das crianças é pré-requisito para recebimento do Auxílio Brasil, programa que vai substituir o Bolsa Família. Caso a exigência seja mesmo cobrada pelo governo federal, as famílias das crianças que não se vacinaram, poderão deixar de receber o benefício, que já começou a ser concedido.

Quando foi lançado pelo governo federal, o Auxílio Brasil não vinculava o pagamento do benefício à exigência de vacinação das crianças para as famílias beneficiadas. Após reclamações de especialistas, o Ministério da Cidadania voltou atrás, no mês passado, e agora anunciou que irá exigir tanto a vacinação infantil, quanto a frequência escolar. Os requisitos passaram a constar no site do governo federal.

Com relação à vacinação, os dados são preocupantes. A queda nas taxas de imunização infantil, no país inteiro, não é recente. Desde 2015, o Programa Nacional de Imunização (PNI) faz o alerta. No ano passado, o PNI informou, por meio do Ministério da Saúde, que a cobertura vacinal em bebês caiu durante a pandemia e teve o pior resultado em mais de 20 anos.

Em Manaus, especificamente, a situação também não mudou um ano depois, porque apenas 65,27% do público-alvo, bebês de 1 ano, foram imunizados com a vacina da Tríplice Viral, cuja meta era 95%. Os dados, referentes até o mês de outubro de 2021, são da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP).

De acordo com levantamento do PNI/DataSus/Ministério da Saúde, em 2020, apenas 73,8% dos bebês de 1 ano, no país, foram vacinadas com a BCG, que protege contra a tuberculose. Foi o menor número registrado desde 1994. Em 2019, esse número ficou em 86,67% e em 2018 chegou a 99,72%.

Vacinas salvam

A mobilização nacional para a vacinação existe desde 1980, segundo o Ministério da Saúde, quando doenças muito comuns na primeira infância foram erradicadas: poliomelite, sarampo, caxumba e rubéola.

No contexto pandêmico em que vivemos, onde crianças com menos de 12 anos ainda não podem ser vacinadas no Brasil contra a Covid-19, a infectologista pediátrica Solange Dourado de Andrade, da Fundação Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HDV), considera muito importante manter o esquema vacinal completo.

“Com a Covid, vemos uma situação ainda mais agravada, sendo necessária a atualização da caderneta. No entanto, essa atualização com as vacinas imunopreviníveis deve ser uma constante. Não podemos deixar que doenças que já foram controladas voltem a infectar as crianças, causando paralisia infantil, varicela (catapora), entre outras doenças”, alertou a infectologista.

Quem nasceu entre a década de 80 e 90 com certeza viveu surtos de catapora nas escolas. As crianças ficavam dias e até semanas impossibilitadas de assistir às aulas. Além de afetar a frequência escolar, algumas doenças que hoje em dia já podem ser prevenidas, por meio das vacinas, ajudam no pleno crescimento saudável das crianças.

“Quando uma criança é imunizada, ela cresce sem esses percalços que podem atrapalhar o seu desenvolvimento, tanto de peso, quanto de estatura. O organismo segue seu caminho natural. Quando a criança adoece por alguma doença infectocontagiosa, ela para esse processo natural, para lidar com aquele agravo da doença. O saudável é viver sem essas intercorrências”, explicou a infectologista.

Além da preocupação com as crianças menores, de 0 a 7 anos, a importância das vacinas também deve ser lembrada na fase da adolescência, de acordo com a especialista. Ela cita, nessa fase, a vacina do HPV quadrivalente, para meninas de 9 anos, e para os meninos, a partir dos 11.

“A meningocócica, disponível na rede pública, deve ser feito um reforço na faixa de 11 a 12 anos. Na rede privada, não há limite de idade. É preciso lembrar, ainda, que as vacinas de difteria e tétano devem ser mantidas a cada dez anos. Passando a adolescência, vai ter que repetir”, alertou Solange.

Movimento antivacina

Vários são os motivos para a não vacinação, entre eles, o negacionismo, que se manifestou muito forte na pandemia. Vários países registraram baixa adesão, precisando oferecer incentivos, como bolsas de estudo e até mesmo lanches e cervejas, como nos Estados Unidos, por exemplo.

Movimento antivacina acredita que os imunizantes não possuem eficácia, mesmo a ciência dizendo o contrário há anos. Lucas Silva/Secom – Divulgação

Além dos Estados Unidos, a França e até mesmo o Brasil registraram protestos pela exigência de vacinação. Recentemente, o movimento antivacina ou anti-vax, como também é conhecido, foi incluído pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos dez maiores riscos à saúde global. O movimento, inclusive, nasceu muito antes da pandemia.

Em Manaus, o médico veterinário *João Paulo acompanhou de perto uma situação de exemplo de negacionismo. A pedido da mãe dele, levou o vizinho, de 17 anos, para se vacinar contra Covid-19, em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) na Zona Centro-Oeste de Manaus. A família do adolescente era contra a vacinação. A situação aconteceu em setembro.

“Ele trabalha como menor aprendiz e, desde o início, a família se posicionou contra a vacinação. Só que a empresa onde ele trabalha começou a cobrar. Ele explicou a situação aos pais, mas eles não permitiram”, relatou o médico veterinário.

Mesmo sabendo que o adolescente poderia perder o estágio, a família foi contra e também não deixou o outro filho, de 16 anos, ser imunizado. “Foi quando ele procurou a minha mãe, perguntando se eu podia levá-lo. Agora, ele já fez 18 anos, os pais já sabem que está vacinado”, contou.

No Amazonas, para a vacinação dos adolescentes a exigência é estar acompanhado de qualquer pessoa maior de 18 anos, portando documento original com foto. Atualmente, 193.636 mil adolescentes de 12 a 17 anos já foram vacinados, de acordo com o vacinômetro da Prefeitura de Manaus.

Vacinas disponíveis

A Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) segue o calendário nacional de vacinação do Ministério da Saúde. No caso da vacina contra Influenza, os únicos grupos com a meta alcançada foram puérperas (109,60%) e indígenas (93,17%). A vacinação, vale ressaltar, foi ampliada depois para o público em geral.

Regularmente, com as campanhas de vacinação, a Semsa informa que são disponibilizadas as seguintes vacinas nas UBS: BCG, Hepatite B, Poliomielite 1,2,3 (VIP – inativada), Poliomielite 1 e 3 (VOP – atenuada), Rotavírus humano G1P1 (VRH), DTP+Hib+HB (Penta), Pneumocócica 10 Valente (Pneumo 10), Meningocócica C (conjugada), Febre Amarela (Atenuada), Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba, Rubéola), Tetraviral (Sarampo, Caxumba, Rubéola e Varicela), Hepatite A, Difteria, Tétano, Pertussis (DTP) e Varicela.

A partir dos sete anos de idade e para adolescentes, o calendário a ser observado inclui as seguintes vacinas: Hepatite B, Febre Amarela, Tríplice viral (Sarampo, Caxumba, Rubéola), dT (difteria e tétano adulto), Meningocócica ACWY
HPV quadrivalente, Varicela (criança ou adolescente indígena, a partir dos sete anos de idade) e dTpa.

No caso da vacina contra o HPV, do Papilomavírus Humano, infecção sexualmente transmissível (IST), ela é disponibilizada durante o ano todo às meninas a partir de 9 anos, e aos meninos acima de 11 anos.

*Nome fictício a pedido da fonte para preservar sua identidade.

Vanessa Bayma
Vanessa Bayma
Jornalista manauara com experiência de mais de 10 anos em jornal impresso. Passou pelas redações de A Crítica e Manaus Hoje como repórter e editora. Fez parte da assessoria de comunicação da Alfândega da Receita Federal. Gosta de ouvir pessoas.

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