Elis e Maria Rita: Um dueto improvável?

Esta semana, a Volkswagen deu o que falar apresentando seu novo comercial para celebrar os 70 anos da marca alemã no Brasil. Maria Rita e Elis Regina travaram a internet cantando, lado a lado, “Como Nossos Pais”, de Belchior. Fazia tempo que não acontecia um furor tão grande por causa de uma campanha publicitária. Nas redes sociais só se falou nisso, com diferentes opiniões sobre inteligência artificial, publicidade, direitos de imagem e até ditadura.

Um dos maiores atributos da Inteligência Artificial é a possibilidade de “reviver” e matar a saudade de celebridades que já não estão mais com a gente. E a marca de carros se aproveitou desse trunfo para criar este dueto improvável entre duas vozes que marcaram gerações e que nunca haviam cantado juntas antes. Assim são os melhores comerciais. Emocionantes. Fazem a gente “esquecer” que eles estão ali para vender um produto.

Foi uma verdadeira viagem no tempo. Poder ver vários momentos com diferentes modelos da marca que passaram pelas vidas de todo brasileiro. E ainda poder ver essas duas figuras icônicas da MPB em um paralelo entre o novo e o antigo, com Elis dirigindo a clássica Kombi e Maria Rita a futurística e elétrica nova versão dela.

Mas como nem tudo são flores e arco-íris, principalmente nas redes sociais, apesar de muita gente ter celebrado o quão emocionante foi poder ver Elis e Rita fazendo história publicitária, também apareceram muitos comentários criticando a campanha.

Alguns criticaram o uso da tecnologia para trazer de volta quem já morreu, falando que isso seria um desrespeito à memória da cantora por implicações éticas e morais de uso de imagem. Outros foram mais além, relembrando a relação entre a marca e o regime militar brasileiro. Criticando Maria Rita por ter feito a campanha, sendo que Elis, Belchior e a música do comercial sempre foram símbolos da luta contra a ditadura.

Todos sabemos que a presença da fabricante no mercado brasileiro ao longo dos anos não aconteceria sem uma boa relação com diferentes governos. Especialmente com o regime militar. E isso não é exclusivo da Volkswagen, mas sim da grande maioria das marcas. Então, não podemos ser hipócritas. Ninguém nunca deixou de comprar um Gol pensando na ditadura. Muito menos de comprar um Fiat Uno, porque a marca financiou o nazismo na Segunda Guerra Mundial. Pelo contrário, transformaram esses carros nos mais vendidos na história do Brasil.

Sempre existirão críticas, de todos os lados. Todo mundo busca algum defeito. Principalmente na internet. Mas nada disso tira o brilho e a genialidade da campanha criada pela AlmapBBDO. E se eu fosse a Maria Rita, teria feito o mesmo. Ter a oportunidade de poder cantar pela primeira vez ao lado da mãe que faleceu quando ela tinha apenas 4 anos? Qualquer um faria o mesmo.

No final de tudo, enquanto os haters continuam exalando comentários negativos e criticando tudo o que encontram pela frente, o comercial já entrou para a história da publicidade brasileira e vai continuar emocionando todos os que o assistirem.

(Artigo Publicado originalmente no Portal A crítica)

Yan Bártholo
Yan Bártholo
Bacharel em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, pela UniNorte. Formado em Redação Publicitária pela Miami Ad School/RJ. Premiado pelo Andy Awards NYC, Effie Awards México, El Ojo de Iberoamerica, FIAP, Young Lions México, Círculo Creativo de México, Colunistas RJ y Wave Festival RJ. Passou pela agência Ogilvy & Mather México, VMLY&R México e Only If-The How Company. Atualmente, é Diretor de Criação da agência Nau Brands.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui