BRASIL – | A disbiose – desequilíbrio entre as bactérias boas e ruins para o organismo, na flora intestinal – pode favorecer o surgimento da doença de Parkinson, que acomete aproximadamente 200 mil pessoas no Brasil. A hipótese foi reforçada em estudos recentes publicados por pesquisadores brasileiros, que descreveram o mecanismo pelo qual esse desequilíbrio pode favorecer o surgimento de doenças neurodegenerativas, entre elas, a doença de Parkinson.
A descoberta mostra que a disbiose intestinal pode levar ao aumento de espécies de bactérias que, eventualmente, contribuem para a agregação da αSyn nos intestinos. E que essa proteína pode então migrar para o sistema nervoso central, configurando um possível mecanismo de surgimento da doença de Parkinson esporádica.
“Estudos têm mostrado que o diagnóstico da doença de Parkinson ocorre tardiamente. E que o distúrbio pode se originar muito mais cedo no sistema nervoso entérico – que controla a motilidade gastrointestinal -, antes de avançar para o cérebro por meio das fibras autonômicas”, afirmou o coordenador da pesquisa, Matheus de Castro Fonseca.
Os estudos sobre os microbiomas presentes no organismo humano avançam rapidamente. Os achados apontam para uma crescente compreensão da correlação entre o desequilíbrio da microbiota intestinal e as doenças neurodegenerativas – não apenas Parkinson, como também Alzheimer e até mesmo autismo.
Revisões alimentares, com vista a reequilibrar a microbiota intestinal, e transplante não invasivo de microbiota intestinal, por meio de cápsulas, podem ser recursos para prevenir essas doenças.
“As doenças neurodegenerativas ainda não têm cura. Por isso, a prevenção é fundamental. Antes o foco das pesquisas era o cérebro. E, com décadas de estudos, não se avançou muito nesse sentido. Agora estamos redirecionando o foco, do cérebro para os intestinos. E as novas descobertas parecem muito promissoras. É muito mais fácil modular a microbiota intestinal do que enfrentar um quadro estabelecido e consolidado no sistema nervoso central”, afirma Fonseca.
A análise foi conduzida por pesquisadores ligados ao Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), que integra o complexo do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas. Parte dos resultados foi publicada em fevereiro, na revista iScience. O segundo artigo foi divulgado este mês na revista Scientific Reports. A pesquisa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).