Por Ana Cláudia Leocádio Gioia
Morar na Jamaica traz um misto de sentimentos porque, muitas vezes, faz eu me sentir como se estivesse no Amazonas, em especial por causa do clima, das florestas locais, das chuvas e de certas frutas tropicais que encontro nas feiras. Chegamos há quase três meses neste país e como é interessante prestar atenção na cultura desse povo insular, sobretudo em sua cozinha.
A Jamaica, localizada no Mar do Caribe, com quase 3 milhões de habitantes, tem extensão de 10,9 mil km2. Formada por montanhas, florestas, praias e recifes, representa um dos principais destinos turísticos da região, com praias de areia fina e águas calmas e mornas.
Explorada primeiro pelos espanhóis atraídos pelas descobertas de Cristóvão Colombo, que aportou na América, em 1492, a ilha foi tomada depois pelos britânicos, responsáveis por sua colonização com base no cultivo da cana-de-açúcar e do cacau, com uso da força de trabalho de escravizados oriundos da África. Os povos originários locais, os “Tainos”, foram praticamente dizimados do território.
Nota-se na cozinha da Jamaica, independente desde 1962, além da cultura africana, grande influência dos indianos, já que os pratos locais se destacam pelo uso de especiarias e condimentos. O “curry goat” (caril de cabra), por exemplo, é muito utilizado em recheios de um pastel chamado “patty”.
O rei absoluto das iguarias jamaicanas é o famoso “jerk chicken”, cujo termo (“jerk”) indica a forma como é temperado o frango. Cada família tem sua receita secreta, geralmente bem picante. Uma jamaicana já me alertou: “o mais gostoso é o assado na brasa, em churrasqueiras feitas em tambores de ferro”.
Outra paixão nacional na Jamaica é o bacalhau seco, conhecido por aqui como “saltfish” (peixe salgado). É preparado refogado com legumes e combinado com o “ackee”, fruta originária da costa oeste africana e que cresce em abundância nestas terras. Parece até primo do guaraná por sua aparência, mas tem sabor bem neutro, e precisa de vários cuidados na colheita e no preparo, por causa dos venenos presentes.
O interessante é entender como o bacalhau, que cresce nas águas frias do Mar do Norte, teria vindo parar no prato dos jamaicanos. Conta-se que era a comida mais barata e fácil de conservar pelos colonizadores, que a utilizavam para alimentar os cativos que trabalhavam nas plantações. É fácil encontrar o produto a preços bem acessíveis nos supermercados.
Outro dia me chamou atenção a forma como é conhecida, por aqui, a macaxeira, chamada pelos nativos de “cassava”. É ralada e espremida para fazer o “bammy”, espécie de tapioca, usando o que para nós seria o bagaço, e não a goma. Opção de acompanhamento para os pratos elaborados, pode ser consumido também no café da manhã.
O principal acompanhamento na Jamaica, no entanto, é o “rice and peas” (arroz e feijão), ou seja, nosso famoso baião de dois. Seja carne, frango ou lagosta, o prato é sempre opção oferecida nos restaurantes locais. Nas praias, há variados tipos de peixes, camarões e lagostas, que podem ser servidos grelhados, fritos ou em molhos de coco ou “curry”. Prefiro sempre grelhado, com verduras e o “rice and peas”.
As feiras livres nos dão também ideia das frutas e das verduras da estação. São inúmeras as espécies de inhames e de batatas doces cultivadas, bastante consumidas na Jamaica. A fruta-pão, por sua vez, é vendida fresca ou já assada. Neste período, está começando a estação do jambo, conhecido como “maçã jamaicana”, bem mais docinho e menos suculento que o nosso do Amazonas. Isso sem falar nos maracujás, abacaxis, bananas compridas, canas e cocos verdes.
Assim, vamos descortinando pouco a pouco as belezas e delícias deste país que, embora limitado em extensão territorial, é bem diverso em sua flora. Não vejo a hora de conhecer as destilarias de rum e contar a vocês um pouco da experiência e o gosto da bebida, que concorre com a nossa cachaça.