Centro histórico de Manaus precisa passar por transformação, avalia Instituto de Arquitetos do Amazonas

MANAUS – AM | Um centro histórico precisa ser pujante, para atrair turistas, moradores e empresas dispostas a investir no local, com instalação de empreendimentos habitacionais, comerciais e de serviços. A avaliação é do presidente do Instituto de Arquitetos do Amazonas (IAB-AM), Marcelo Borborema. Ele acredita que, para alcançar essa condição, o centro da cidade de Manaus terá que passar por profunda transformação, com a execução de um planejamento urbano que contemple a criação de moradias, devolvendo a “qualidade ambiental e de bairro” ao local, e que atue no resgate dos prédios abandonados.

Hoje, o que se vê no centro histórico de Manaus são muitos imóveis sem uso, disse ele, grande parte deles prédios públicos. “Tornou-se um polo de moradores de rua e de venda e consumo de drogas… e de imóveis abandonados. Do jeito que está, é difícil para a sociedade acreditar que pode investir ali”, afirmou.

Outro problema, segundo Borborema, é a necessidade premente de atualizar a infraestrutura pública. “O centro tem esgoto público, mas não suporta a demanda em período de cheia. Em 2021, a cheia foi histórica, mas todo ano alaga um pouco. Ninguém quer investir numa condição dessa. Que pena que não houve atenção a isso nas recentes intervenções feitas ali. Ficou parecendo maquiagem só trocar a pavimentação”, lamentou, citando, ainda, outros serviços públicos que precisam de intervenção, no local. “O abastecimento de água limpa, energia e internet estáveis também deveriam ser calibradas”, enumerou.

Borborema considera que prédios públicos hoje em desuso ou abandonados, como o do INSS, o Banco do Brasil, antigas sedes da Receita Federal, Ministério das Finanças, Porto de Manaus, Defensoria Pública e até o quarteirão devassado da antiga Booth Line, têm que ser devolvidos ao uso diário da população. De preferência, na sua opinião, como “uso misto”, quando habitação, comércio e serviços acontecem no mesmo endereço. “Isso aumenta a vizinhança e o volume de negócios e melhora muito a segurança”.

Na avaliação de Marcelo Borborema, problemas de falta de infraestrutura e o abandono de alguns prédios são o grande desafio no Centro Histórico da cidade. Foto: Divulgação

O resgate das calçadas, hoje malcuidadas e tomadas pelo comércio de camelôs e de produtos de lojas que funcionam no local, também é um aspecto importante a ser observado, para Borborema. “As calçadas são parte integral das caixas viárias. Deveriam receber mais investimento e cuidados com drenagem, continuidade dos materiais utilizados, não ser escorregadias etc”, pontuou.

Investimentos necessários

De acordo com Borborema, o IAB-AM realizou em fevereiro do ano passado, em conjunto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN-AM), um seminário para discutir os novos desafios para o centro de Manaus, com palestrantes especialistas de todo o Brasil. Alguns passos foram dados a partir daí, pela Prefeitura, inclusive a criação do Distrito de Inovação, no centro histórico de Manaus, na região conhecida como antigo bairro de São Vicente.

Ele conta que vários projetos de equipamentos culturais foram elaborados para a região da Ilha de São Vicente (do Largo da Matriz até o início da avenida Sete de Setembro), mas ainda não concretizados. “Os projetos ficaram prontos e aprovados nos órgãos competentes. Espero que sejam executados”, frisou.

“A perspectiva dessa nova gestão na Prefeitura, de tratar o centro histórico criando um grande plano urbano é acertada, porque entrega para a sociedade mecanismos e facilidades legais, como o aumento da capacidade de construir, por exemplo. É um caminho saudável e estrutural para a boa transformação do centro. Vamos esperar que se concretize”, ressaltou, lembrando que o centro de Manaus perdeu muito da sua “qualidade ambiental”, ao longo dos anos.

Apenas alguns prédios históricos, como o Teatro Amazonas, são de grande uso na cidade, mas outros imóveis que poderiam ser aproveitados estão abandonados. Fotos: Caio de Biasi/Divulgação


“Foi centro de cargas, centro financeiro, polo nacional de comércio, centro de distribuição de alimentos…. Quando precisou ser isso tudo, deixou de ter qualidade de bairro. Hoje é o que mais falta ao centro: qualidade de bairro para se morar”, reforçou.

Investir na transformação do centro da cidade significa, também, na sua concepção, fortalecer a economia da capital amazonense. “Tem que pensar em quanto isso vai valer e não o quanto vai custar. Não estamos falando em algo como um carro, que vai valer sempre menos do que se investiu. Estamos falando em um investimento que vai desenvolver e fortalecer a nossa economia” comparou.

Borborema destaca a importância de serem ampliados os esforços para qualificar o centro. “O custo pode ser alto, mas é para isso que existe planejamento. Esse planejamento precisa ser técnico e não político. Há muito mais casos de sucesso em recuperação de centros históricos pelo mundo, do que de insucesso”, observou.

Ele cita o exemplo de Belém, capital paraense que nos anos 90 investiu fortemente na transformação do centro histórico. “Hoje, Belém é mais conhecida do que Manaus como destino cultural da Amazônia”.

Margareth Queiroz
Margareth Queiroz
Margareth Queiroz, diretora da Três Comunicação e Marketing, com mestrado em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB) e graduação em Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

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