Relatório aponta queda na qualidade da água do Tarumã-Açu

Um estudo realizado pelo grupo de pesquisa “Química Aplicada à Tecnologia”, da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), apresentou resultados de queda na qualidade da água do Rio Tarumã-Açu, afluente esquerdo do Rio Negro, que desagua a oeste de Manaus. O rio, conhecido por sua importância ecológica e social, vem apresentando índices desfavoráveis que podem ter sérias consequências para o ecossistema local e para a saúde pública a longo prazo.

Conforme o pesquisador responsável pelo estudo, professor Sergio Duvoisin Junior, a análise das amostras coletadas no último relatório completo indica que apesar das condições da água estarem dentro dos padrões estabelecidos pela resolução 357, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), atualmente existem pontos críticos através da bacia.

De acordo com o CONAMA, tal resolução dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.

O pesquisador esclarece que o monitoramento funciona como uma ferramenta para prever cenários piores no futuro.

“Ao longo dos anos de monitoramento do Tarumã-Açu, observamos que, embora a bacia consiga absorver bem a quantidade de poluentes que vem sendo despejada nela, os parâmetros de qualidade começaram a piorar. Os dados coletados mostram que a partir dessa queda, com base no resultado, é preciso que as autoridades tomem as devidas providências para que o problema não se instale de maneira que se torne irreversível”, disse Sergio.

Possíveis fontes de poluição

O líder da pesquisa afima que vários fatores contribuem para a queda na qualidade da água do rio Tarumã-Açu. “Existem vários condomínios próximos à bacia, o que gera despejo de dejetos e produtos poluentes, e, além disso, um dos igarapés que desaguam naquela região vem do aterro sanitário de Manaus, que é uma fonte intensa de poluição. Também existem algumas estações de tratamento de esgoto que não estão funcionando, e, claro, a presença dos diversos flutuantes no local, que são outra fonte de poluição, portanto, são vários fatores que precisam ser observados para que seja possível medir e mensurar a situação de maneira adequada”, explica.

Métodos e parâmetros

Sergio Duvoisin Junior explica que todas as análises realizadas pelo grupo são feitas com base em pelo menos 140 parâmetros, entre fisico-químicos, microbiológicos e de metais. Todas as coletas são realizadas a partir do Manual de Coleta de Amostras de Água da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).

Segundo o pesquisador, todas as bacias monitoradas pelo grupo de pesquisa da UEA, seja o igarapé do Tarumã-Mirim, Tarumã-Açu, São Raimundo, Educandos e Puraquequara, são analisadas com base nesses métodos e parâmetros.

Além disso, para o relatório, é utilizado o Índice de Qualidade das Águas (IQA), criado em 1970, nos Estados Unidos, pela National Sanitation Foundation. Ele foi desenvolvido para avaliar a qualidade da água bruta visando seu uso para o abastecimento público, após tratamento. Os parâmetros utilizados no cálculo do IQA são em sua maioria indicadores de contaminação causada pelo lançamento de esgotos domésticos.

“Nosso monitoramento já vem sendo feito desde 2018, com campanhas de análises a cada três meses. Temos parâmetros de PH, que são os mais simples, de temperatura da água, coliformes fecais, nessa parte de microbiologia. Também analisamos cerca de 60 tipos de metais nas águas, nitrogênio em todas as suas formas, fósforo em todas as formas. Ou seja, temos uma grande variedade de análises para embasar o estudo”, disse o pesquisador.

Questão de saúde pública

O Rio Tarumã-Açu desempenha um papel fundamental no equilíbrio do ecossistema amazônico. Ele também é fonte de abastecimento de água para diversas comunidades ribeirinhas em Manaus. Sendo assim, a detecção de níveis elevados de poluentes levanta preocupações não somente para a vida aquática e a biodiversidade da região, mas também para a saúde humana, visto que a contaminação da água pode afetar diretamente o abastecimento de água potável.

“Em bacias onde a qualidade de água é ruim, os indíces de doenças transmissíveis pela água são muito maiores. Então, uma água de boa qualidade traz melhorias para a saúde pública. Portanto, com esse estudo, o nosso papel é dar à gestão pública uma ferramenta para identificar os locais onde ocorrem problemas com água, para que eles possam fazer as ações necessárias para melhor a qualidade.”, afirma o pesquisador.

Para Sergio Duvoisin, os relatórios feitos aos longos dos anos funcionam como prevenção para que o Tarumão-Açu não chegue ao nível de poluição de outras bacias que atravessam a cidade.

“O Tarumã-Açu nem é uma das piores bacias que temos, como as bacias do Educandos e São Raimundo, que estão em péssimo estado e que deveriam ter mais ações da gestão pública. Com o nosso trabalho, conseguimos fornecer informações para que tais medidas sejam tomadas de forma adequada”.

Conscientização da população

Como líder do grupo da pesquisa, Sergio destaca a importância da conscientização das pessoas sobre a poluição dos rios e igarapés. O pesquisador defende que a melhor promoção de melhoria desses corpos hídricos parte da conscientização das pessoas com relação ao seu papel na preservação desses rios.

“Aqui em Manaus, algumas pessoas pensam que como a bacia é muito grande, com bastante água, esse recurso nunca vai faltar. Na minha opinião, essa é uma ideia egoísta de quem não pensa em seus descendentes. Sendo assim, nossas ações atuais vão refletir em nossos netos, quando não estivermos mais aqui, então, é importante entender que ações de preservação não cabem somente à gestão pública, mas também passa por aquelas pessoas que jogam lixo nos igarapés, que desperdiçam água, que despejam lixo de forma inadequada nas ruas, etc. Então, a conservação dos recursos naturais é de responsabilidade de todos, portanto, com o nosso trabalho, esperamos que a população tome consciência na necessidade de preservação das nossas águas”, diz o pesquisador.

Ana Patrícia
Ana Patrícia
Jornalista em formação, com experiência em portais e assessoria de imprensa. Apaixonada por ouvir e contar histórias. Pseudo-cinéfila e constante entusiasta de Christopher Nolan e David Fincher.

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