Segundo informações da Polícia Federal (PF), os fundos gerados da comercialização das joias oferecidas como presentes ao governo do Brasil eram transferidos em espécie ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nesta sexta-feira (11), a PF deu início a uma operação com o propósito de aprofundar as investigações relacionadas a um esquema de desvio e comercialização no exterior dos presentes oferecidos a Bolsonaro durante suas missões oficiais. Diversas autoridades foram alvo de mandados de busca e apreensão, incluindo o general Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o advogado Frederick Wassef, o assessor Osmar Crivelatti e o próprio Mauro Cid.
“Os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, aponta trecho da investigação da PF.
Em mensagens encontradas no telefone de Mauro Cid, a PF descobriu diálogos sobre a transferência de valores em espécie para Jair Bolsonaro. Em uma das trocas de mensagens, Cid declarou:
“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele, né? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?”, disse Mauro Cid em áudio enviado por celular.
Os indícios envolvendo Jair Bolsonaro no esquema também apontam que as joias foram levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aeronave da Força Aérea Brasileira, enquanto ele ainda ocupava o cargo.
Um dos casos ocorreu em uma viagem para os Estado Unidos em junho de 2022. Na ocasião, Cid se separou da comitiva presidencial e vendeu dois relógios de luxo por 68 mil dólares. Os valores foram depositados na conta de seu pai no exterior, o general Cid.
Em outra viagem realizada dezembro de 2022, quando Bolsonaro deixou o país pouco depois de perder as eleições, também foram transportadas joias posteriormente colocadas à venda nos Estados Unidos.
Nos diálogos, Cid conversa com um outro assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, sobre as restrições existentes a respeito da venda dos bens no exterior. O gabinete de documentação da Presidência havia informado que era necessário registrar oficialmente a doação do bem ao governo brasileiro e que a venda no exterior também precisaria ser comunicada.
Por isso, Câmara comunica a Cid que optou por não prosseguir com a venda de um bem específico nos Estados Unidos, e em vez disso, planejava realizar um leilão no Brasil em outro momento. Cid responde via mensagem de texto: “É um tanto lamentável, considerando que estamos lidando com uma quantia de 120 mil dólares. Hahahahha”. Câmara então comenta: “O desafio reside em posteriormente justificar essa decisão e explicar para onde esses fundos foram destinados”.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, afirma que esses diálogos “evidenciam que, além da existência de um esquema de peculato para desvio do acervo privado do ex-presidente da República Jair Bolsonaro os presentes de alto valor recebidos de autoridades estrangeiras, para posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-presidente, Marcelo Câmara e Mauro Cid tinham plena ciência das restrições legais da venda dos bens no exterior”.