Os encantos da Provença e seus campos de lavanda


O verão no sul da França, principalmente na região da Provença, leva-nos a embarcar em uma linda viagem pelos campos de lavanda, cultivados por cerca de dois mil produtores, e convida-nos a imergir na história de cidades históricas e a conhecer as inúmeras propriedades dessa linda flor azul violeta.

Antes de nos mudarmos para a Jamaica, nossa despedida da França, em julho de 2021, foi uma viagem aos campos de lavandas da Provença, uma região de grande riqueza cultural e gastronômica. Para conseguir vê-las no auge da floração, é preciso visitar a partir da metade do mês de junho ao final de julho. Nos últimos anos, no entanto, as datas têm-se alterado por causa das mudanças do clima.

É uma paisagem impressionante, que vai do platô de Valensole (a parte mais visitada pelos turistas) ao Monte Ventoux, passando por Diois, Luberon e Verdon, onde existe um grande cânion alagado, ideal para se refrescar nas tardes quentes do verão francês. Há uma parte mais alta da Provença, em que se cultiva a verdadeira lavanda, mais nobre e de perfume concentrado, de alto valor no mercado.


A primeira parada foi em Avignon, conhecida como a “Cidade dos Papas” por ter abrigado, no século XIV, nada menos que nove pontífices, cujos restos mortais de alguns estão sepultados nas igrejas do município. Por conta disso, a principal atração turística é o Palácio dos Papas, um suntuoso edifício, construído no meio da cidade, considerado o maior palácio gótico do Ocidente. Vale notar que foi a única fase da Igreja em que os papas deixaram Roma para viver em outro lugar.

Avignon também é famosa pela célebre canção infantil “sur le pont d’Avignon, l’on y danse, l’on y danse. Sur le pont d’Avignon, l’on y danse tous en rond!”, que imortalizou a obra construída sobre o Rio Rône, que chegou a ter 900 metros e 22 arcos, dos quais restam hoje somente quatro. Do século XII ao XVII, a ponte passou por várias reconstruções devido aos desabamentos em decorrência das cheias do rio.

Para os amantes de vinho, podemos conhecer, a poucos quilômetros dali, uma das mais reputadas designações vinícolas da França, a Châteauneuf du Pape. Obviamente, paramos numas das bodegas e compramos algumas garrafas, porque não se pode perder uma oportunidade como essa.

A diferença entre as lavandas

Numa parada rápida em Luberon, pudemos conhecer um pouco da flor que encanta os visitantes da Provença. No pequeno Museu da Lavanda da cidade, aprende-se que a planta foi cultivada desde a época dos romanos para perfumar banhos e roupas. Aportou na França a partir da Idade Média, por suas propriedades perfumosas e medicinais. Foi apenas a partir do século XIX, contudo, que o cultivo se intensificou, a fim de atender as demandas por óleos essenciais das perfumarias de Grasse, a Cidade do Perfume.

Mesmo pequeno, o museu reúne peças únicas dos primórdios dos trabalhos de destilação com pequenos alambiques de cobre até chegar aos mais modernos usados atualmente. A loja, ao final da visita, oferece dos mais variados produtos, de cremes a perfumes e sachês com as flores. Mas a flor também é muito utilizada na cozinha provençal para aromatizar sorvetes, cremes, molhos, bolos, entre outros usos.


Toda a região trabalha com dois tipos de lavanda: a fina (chamada de verdadeira), que cresce nas partes mais altas da região, de 500 a 1.500 metros, na Alta Provença, cujo óleo essencial é mais pulsante, refinado e de alto valor comercial; e a “lavandin”, um híbrido entre a fina e a aspic (espiga), que tem como atrativo ser mais volumosa e com alta produtividade do óleo essencial, porém com aroma menos pulsante, conforme informações do museu.

Além da perfumaria, a lavanda também tem importantes propriedades medicinais, como antisséptica e antibactericida, calmante para picadas de insetos, além de efeitos ansiolíticos e relaxantes, quando utilizada em infusão.

Ilustrações: La Provence em bouteille

Nessa passagem descendo a Provença até chegarmos à cidade de Grasse, onde estão instaladas as mais importantes empresas de perfumaria da França e o Museu do Perfume, as paradas para se alimentar são uma atração à parte. Como era verão, os pratos eram baseados em muitos produtos frescos locais, deliciosas saladas com azeites de oliva da região e vinhos brancos refrescantes para acompanhar, sem falar nos pães artesanais.

Fizemos questão de conhecer as plantações de duas cidades em especial: Sault e Valensole. A primeira, porque é onde se cultiva a lavanda fina, de único galho sem ramificações, e de cor mais intensa. Já a última, e mais visitada, apresenta os campos mais amplos e volumosos, a maior parte de lavandin, cujo galho tem ao menos três ramificações. Além dos campos azul violeta, em Valensole também é possível visitar extensos campos de girassóis, a combinação perfeita para os turistas fazerem fotos ‘instagramáveis” no local.


Essa é apenas uma pequena parte da Provença, no Sul da França, que atrai milhares de turistas a cada verão, para visitar principalmente os campos de lavanda. Porém, esses cultivos têm sofrido baixas, a cada ano, devido às alterações do clima. O resultado disso é a perda da liderança francesa na produção de lavandas na Europa, hoje ultrapassada pela Bélgica. Só desejo para esse rico mercado, que movimenta não apenas as destilarias e perfumarias do país, mas toda a indústria do turismo da região, que consiga sobreviver e continue a trazer-nos tanta beleza e bem-estar.

Ana Cláudia Leocádio Gioia
Ana Cláudia Leocádio Gioia
Graduada em Cozinha pelo Institut Le Cordon Bleu de Paris, em Gastronomia pelo Iesb-Brasília. Especialista em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

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