Vanessa Bayma
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MANAUS (AM) – | A variante Delta, a Influenza e a Ômicron devem potencializar os efeitos da pandemia em Manaus. A afirmação é de Lucas Ferrante, biólogo e doutorando do Programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que prevê uma nova onda de covid até o final do mês de fevereiro, de acordo com artigo científico “Dynamics of COVID-19 in Amazonia: A history of government denialism and the risk of a third wave”, do grupo de pesquisadores do qual faz parte.
A publicação passou por revisão de pares e será publicada nas duas próximas semanas, na revista científica Preventive Medicine Reports, segundo o biólogo, que fez o alerta: “Esse artigo prevê pelo menos 911 mortes pela variante Delta, que vai ser potencializada pela variante Ômicron e a Influenza”.
Conforme esse recente estudo, a previsão dos óbitos se dá antes mesmo que Manaus atinja uma ampla cobertura vacinal, que só seria alcançada após 85% a 90% da população com o esquema vacinal completo.
De acordo com Lucas Ferrante, a onda da Delta é avisada às autoridades desde o início do ano passado, quando foi informada da necessidade de aumentar as taxas de vacinação na capital. “Falei na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), no início de 2021, que seria necessário pelo menos 70% da população vacinada nos próximos três meses ou apenas empurraríamos a terceira onda para mais tarde, porque o número esperado não foi atingido. E é o que está sendo visto agora”, explicou.
Meses depois, janeiro de 2022, e Manaus ainda se encontra com esse número abaixo. Nesta terça-feira (04), segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), Manaus tem 64,2% da população de 2.219.580 mil habitantes com a cobertura vacinal completa.
Além disso, o índice de mobilidade urbana deve ser um fator decisivo para aumentar as taxas de infecção, já que mais pessoas circulam pela cidade, fazendo com que o vírus se espalhe mais e haja o contágio. Segundo o biólogo, existe a possibilidade, por exemplo, da Ômicron já estar entre nós. “Possivelmente já está no Amazonas, mas a capacidade de detecção do estado é, de fato, quando se tem pelo menos 6% dos casos da variante e os dados de saúde estão ‘nublados’, há muitas subnotificações”, explicou ele.
Manaus ainda se encontra numa situação desconfortável, onde o período sazonal da Influenza culmina em casos de síndromes respiratórias graves, como já registradas pelo estado. O pesquisador lembra também das festas de final de ano, as festas de Carnaval, mesmo que reduzidas, e ainda o início do retorno escolar, em momento que a vacinação infantil não foi liberada, ainda, para o público abaixo de 12 anos de idade.
“Todos esses fatores – delta, influenza, ômicron e mobilidade urbana – contribuem, mas essa onda será muito menor do que as duas primeiras, porque já possuímos uma parcela da população vacinada. Entretanto, os índices ainda são medíocres para contermos uma onda. Teremos três doenças ao mesmo tempo, três patógenos atuando em Manaus”, explicou. Segundo ele, ainda é necessário reforçar os índices de vacinação.
O pesquisador lembra ainda que, mesmo a onda sendo menor, as doenças podem causar hospitalizações, mesmo havendo vacinação. O congestionamento do sistema de saúde pode acontecer, mesmo a rede estando mais preparada. “Nós não vamos ter o índice de mortalidade de antes, mas esses índices tendem a se elevar. E pode faltar insumos, médicos, e tudo isso pode aumentar a mortalidade também”.
Nesse sentido, ele destaca que também não é o momento de retornar às festividades de Carnaval. Mesmo vacinadas, as pessoas ficam sem máscara e com maior contato físico. “Esse aumento de mobilidade urbana, principalmente nesse tipo de festa, vai causar um grande surto. É recomendado que as autoridades reprimam de forma veemente. A pandemia não acabou e ainda está um pouco longe de terminar”.