MEIO AMBIENTE: Povos da Amazônia estão ameaçados por desmatamento, degradação e mudanças climáticas, diz biólogo

Os efeitos do desmatamento afeta a temperatura da floressta e a produtiva das espécies florestais. FOTO: Reprodução.

Jacira Oliveira
Especial para o CANAL TRÊS

MANAUS – A Amazônia Brasileira perde, anualmente, cerca de 14 mil quilômetros quadrados – o equivalente a 1,4 milhão de hectare – por efeito do desmatamento. Este ano, pelo aumento que vem sendo registrado mês a mês, poderá chegar a 16 mil quilômetros quadrados que vinha sendo, até agora, a média anual de toda a Amazônia – Brasil e o demais países que a compartilham. Além dos impactos devastadores para o equilíbrio ambiental e as mudanças climáticas, os efeitos também estão atingindo diretamente os povos indígenas e tradicionais e os agricultores familiares da região, refletindo nas suas sobrevivências.

O alerta é feito pelo biólogo, mestre em biodiversidade e doutorando em Ciências Ambientais pelo INPE, Diego Oliveira Brandão, atualmente responsável técnico da empresa Amazônia Socioambiental. Segundo ele, as mudanças no meio ambiente reduzem a distribuição geográfica e a produtividade de plantas, reduzindo também a capacidade de subsistência das pessoas que dependem da floresta, na Amazônia.

O biólogo argumenta que já é fato comprovado cientificamente o efeito negativo nas populações que são afetadas pelo desmatamento e pelas queimadas. “A temperatura superficial da Amazônia já aumentou em, ao menos, 1ºC, subindo de 27ºC para 28ºC, e os estudos experimentais já comprovaram que a essa temperatura a produtividade vegetal é reduzida. Ela passa a produzir menos biomassa por área, porque a sua fotossíntese está afetada. Isso implica na diminuição da madeira, sementes, resinas e todos os outros produtos vegetais”, afirma.

Esse aumento de temperatura se dá, segundo explicou o biólogo, pelo aumento de gases do efeito estufa (dióxido de carbono) – que são produzidos pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento. “No desmatamento, o carbono existente nas espécies é liberado em forma de dióxido de carbono”, lembra. Outros fatores são os aumentos de incêndios e o efeito da agricultura de grande porte para as populações.

Diego Brandão, biólogo, mestre em biodiversidade e doutorando em Ciências Ambientais pelo INPE. FOTO: Arquivo Pessoal.

Amazonas – O biólogo reconhece que o Amazonas é o estado da Amazônia Brasileira que mantém o maior percentual de preservação da floresta, acima dos 80% definidos como intocáveis pelo Código Florestal. E que isso se dá porque o desmatamento não acontece de forma aleatória, sendo mais intenso em algumas regiões e menos em outras.

Ele cita como exemplo as regiões sul – parte do Pará e sul do Amazonas, leste do Acre, Rondônia e norte do Mato – e leste – Maranhão, parte do Tocantins, o Amapá – da Floresta Amazônica onde o desmatamento é mais intenso. As duas regiões são consideradas a nova fronteira agrícola da região, com predominância de pecuária e agricultura (soja, milho e algodão), a exemplo dos municípios de Apuí, Humaitá e Lábrea, onde as taxas de desmatamentos são as mais altas há mais de 10 anos e também onde é alto o crescimento da população.

De outro lado, com baixa pressão sobre a floresta, principalmente pela inexistência de rodovias, estão as regiões norte e oeste da Floresta Amazônica, tendo os municípios amazonenses de Coari, Borba, São Gabriel da Cachoeira, São Paulo de Olivença e Carauari como alguns dos exemplos.

Descumprindo as regras – Brandão lamenta o fato de os dispositivos legais na Legislação Brasileira – Constituição, Código Florestal, entre outros – e os acordos internacionais não venham sendo cumprido. “Existem as legislações e os acordos, mas também existem falhas e as evidências disso são muito fortes. Por exemplo, menos de 5% do desmatamento chega a ser fiscalizado pelas autoridades ambientais; pelos dispositivos legais, 100% do desmatamento precisa de autorização, mas isso tem sido feito com frequência muito baixa; o código florestal (Lei 12.651/2012) determina que 80% da Floresta Amazônica seja preservada, e isso não está acontecendo”, afirma.

O biólogo afirma que há uma pressão muito grande da grilagem de terra a serviço da especulação imobiliária, dando origem a um novo tipo de desmatamento que é para o não uso do solo. “A ideia desses grileiros é roubar a terra, desmatar, deixar que elas se desvalorizem como fonte de produção e se valorizando para a especulação imobiliária, à medida que esses espaços começam a ser povoados. É o novo perfil da grilagem, a serviço da especulação, organizações fortes, com muito dinheiro, por trás de tudo isso”, ressalta.

Além da ocupação para a agropecuária, da grilagem de terra para a especulação imobiliária, Diego agrega, ainda, o recrudescimento do garimpo ilegal na Amazônia, com toda a carga de problemas que traz consigo. “Não é minha área de estudo, mas pude ver o que aconteceu, por exemplo, na calha do Rio Madeira, com a presença de garimpeiros e balsas. Isso não é medido, mas com certeza tem impacto na floresta, na biodiversidade e nas pessoas que dependem da floresta”, frisa.

O cientista também comenta sobre a contradição entre a extrema riqueza da biodiversidade da floresta amazônica e a extrema pobreza da população do estado do Amazonas, onde mais de 50% da vivem entre a pobreza e a miséria.

“Temos a riqueza e a pobreza vivendo no mesmo espaço e para ter uma solução é preciso muito investimento em ciência, tecnologia, recursos financeiros, educação, por exemplo. Historicamente, os investimentos na região norte são menores do que em outras regiões. Os projetos que existem hoje são insuficientes para garantir os meios de subsistência em longo prazo das comunidades que dependem da floresta”, afirma.

Manter as condições favoráveis exige investimento, ciência, tecnologia e educação. FOTO: Reprodução.

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