Manaus registra índices até 15 vezes superior ao recomendado para a qualidade do ar

O amanhecer cinzento tem sido constante em Manaus, nas duas últimas semanas. Nesta quarta-feira, 11 de outubro, não foi diferente. Um denso nevoeiro tomou conta de vários pontos da cidade e a qualidade do ar superou a concentração de 300g/m³ de Material Particulado e, em alguns locais, chegou a 400g/m³ superando em quase 15 vezes as diretrizes recomendas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 25g/m³. Ou seja, a qualidade do ar respirada em Manaus é “péssima”.

Os índices dessa manhã foram captados pelo Sistema Eletrônico de Vigilância Digital (Selva), que faz o monitoramento da situação e têm se repetido desde o final do mês de setembro, coincidido com o período mais grave da estiagem e, também, do aumento de focos de queimada em todo o Estado, incluindo a Região Metropolitana de Manaus e a própria capital.

“Os piores momentos são o início do dia e no final do dia. Na medida em que a atmosfera se aquece, a massa de ar se expande e a concentração de Material Particulado se dilui num espaço maior da atmosfera. E, no final do dia, quando essa massa se resfria, ela compacta todo esse material mais próximo da superfície”, explica o Professor da UEA, Rodrigo Augusto Souza, doutor em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.


Em geral, de acordo com o Selva, a qualidade do ar no Estado está entre ‘muito ruim’ e ‘péssima’, com níveis de poluição entre 75 e 160 pontos de concentração de MP2.5 (material particulado), na maioria dos municípios onde há estações de monitoramento. No entanto, a qualidade do ar verificada pela plataforma está em constante mudança e pode ter variações durante todo o dia, dependendo de mais ou menos concentração de fumaça e gases poluentes. Mas os resultados acima mostram a média diária, nos últimos dias.

“É um fato que essa contaminação do ar é provocada pelas queimadas em lugares próximos a Manaus e inclusive Manaus. Os governantes podem adotar diversas estratégias, mas só há uma forma segura de evitar essa situação: é não queimar”, diz Rodrigo Souza. “Mas, para isso precisamos mudar a cultura e romper paradigmas”, defende.

Queimadas

De janeiro ao início de outubro deste ano, já foram detectados mais de 16,9 mil focos queimadas no Amazonas – o segundo maior desde 2017 – com 55% dos casos registrados no Sul do Estado e 12,6% na Região Metropolitana de Manaus, de acordo com dados divulgados pelo Governo do Amazonas, no início desta semana.

O Governo do Amazonas garante que está agindo e que entre 12 de julho e 8 de outubro deste ano já debelou quase 2 mil focos de incêndio, 631 deles em Manaus. O Estado conta com uma força tarefa, encabeçada pelo Corpo de Bombeiros e apoio de 23 agentes do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama). Conta, inclusive, com auxílio inclusive de aeronaves para o combate aos focos de incêndio, segundo divulgou o governo.


Riscos à saúde

Além do incômodo causado pela presença de fumaça no ar, a poluição é, também, o maior risco ambiental para a saúde humana e uma das principais causas evitáveis de morte e adoecimento em todo o mundo, afetando mulheres, crianças e idosos e, também, provocando impacto negativo nos ecossistemas, segundo alerta a Fiocruz.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 99% da população do planeta respira ar impregnado de fuligens, enxofre e outros produtos químicos tóxicos e os países de baixo e médio rendimento são os mais afetados. Todos os anos, diz a ONU, 7 milhões de pessoas morrem prematuramente em consequência da poluição atmosférica.

No Brasil, além da poluição urbana provocada pelo uso de combustível fóssil, entre outros, o drama se avoluma com os constantes ataques às florestas em seus diversos biomas, principalmente na Amazônia, onde, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), estão concentrados 52% dos mais de 150 mil focos de queimadas registradas por ano (média anual registrada desde 2017).


O que é o Selva

Plataforma criada para monitorar as condições de queimadas, poluição do ar e mudanças climáticas na Amazônia. Funciona em parceria com a Cuomo Foundation, a UEA e a FUEA.

“Essa plataforma foi criada para ser um serviço à população para que ela possa acompanhar os níveis de poluição do ar; para auxiliar os governos em suas políticas públicas e, fundamentalmente, como uma ferramenta para o ensino de Ciências com Uso de Tecnologia, tanto para alunos de ensino médio como de ensino superior. “É um programa ambiental para a mudança de cultura, centrado no entendimento de que jovens empoderados serão adultos mais maduros ambientalmente e a gente consegue caminhar na direção da tão sonhada sustentabilidade”, diz o professor.

A plataforma mostra dados de queimadas, capturados de três satélites diferentes e mostra a poluição do ar em estações reais (com instalações físicas no local) e virtuais, em municípios que não têm um sensor de qualidade do ar e onde é utilizada a modelagem numérica.


O que é Material Particulado

Denominação geral para um conjunto de poluentes constituídos de poeiras, fumaças e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno tamanho. As principais fontes de emissão de particulado para a atmosfera são: veículos automotores, processos industriais, queima de biomassa, ressuspensão de poeira do solo, entre outros.

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