INDÚSTRIA SUSTENTÁVEL: Universalização do saneamento expande horizontes à indústria de fertilizantes no Brasil

O avanço do saneamento cria expectativa de aproveitamento dos resíduos para produção de fertilizantes e outros usos sustentáveis. FOTO: Divulgação.

DA REDAÇÃO

MANAUS – |Que o saneamento básico, com água potável acessível à população e coleta e tratamento de esgoto é a solução para grande parte dos problemas de saúde pública já é fato amplamente conhecido, discutido e comprovado. Mas, que o material orgânico recolhido em forma de lodo do tratamento de água e de esgoto pode ser a solução para a produção de alimentos no Brasil, são novos cantares que tanto vêm ao encontro de soluções ambientais, quanto para reduzir a dependência do Brasil na aquisição de componentes dos principais adubos.

O lodo gerado nesses processos de tratamento pode suprir a necessidade da agricultura brasileira com uma nova indústria em expansão. De acordo com a expectativa do mercado, a geração desse resíduo vai mais que dobrar com a universalização do saneamento até 2033. Até essa data, de acordo com o marco legal do saneamento, 99% da população deve ter acesso à água tratada e 90% à coleta e tratamento de esgoto.

As concessionárias já se movimentam para encontrar uma destinação mais sustentável para o resíduo. Do lodo é possível retirar nutrientes essenciais para os fertilizantes, abrindo caminho para o protagonismo de uma nova indústria no país. A produção de fertilizantes ou de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio pode resolver a dependência da agricultura brasileira, que importa cerca de 85% do que precisa desses insumos.

A Aegea, maior empresa privada de saneamento básico do Brasil, que atende 21 milhões de pessoas em 154 municípios, está de olho nesse mercado. Em Manaus, onde os serviços são realizados pela Águas de Manaus, parte dos resíduos produzidos já estão sendo transformados em fertilizantes.

O material coletado em Manaus no processo de tratamento de água é enviado para uma empresa no Rio Grande do Sul e transformado em fertilizante, de acordo com a assessoria de imprensa da Águas de Manaus. A empresa é a Timac Agro, multinacional francesa que fabrica e comercializa fertilizante de alta tecnologia e está presente no Brasil há 20 anos.

Até 2033 o abastecimento de água tratada deve chegar a 99% da população. FOTO: Reprodução.

A Aegea também tem um case de sucesso no município paulista de Piracicaba, de implantação de sistema de secagem de lodo proveniente do esgoto e compostagem, introduzindo o material na economia circular. O projeto é composto por uma Central de Gestão do Lodo, que vem mostrando que é possível dar um destino mais sustentável ao resíduo, reduzir custos e diminuir o impacto ambiental, já que o volume do material é reduzido em, pelo menos, 70% após o processo de secagem.

“Os custos com o lodo hoje na concessionária giram em torno de R$ 160 mil por mês. Temos escassez de fornecedores, pois só tem dois aterros sanitários na região. Também há necessidade de inovação de minimizar a produção de lodo, com oportunidade de aplicação na agricultura, bem como a geração de energia através da queima do lodo”, explica Valdir Antônio Alcarde, diretor executivo da Mirante, uma parceria público-privada da Aegea na cidade.

Universilização – Percy Soares Neto, diretor executivo da Associação Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), explica que a demanda gerada pela universalização dos serviços de saneamento é tamanha, que novas indústrias vão ganhar o protagonismo no país nos próximos anos.

“A gente sempre fala que a grande mudança de conceito do saneamento é olhar a estação de tratamento de esgoto como uma central de matéria-prima. Eu tenho a possibilidade de gerar energia na digestão do esgoto, tenho a possibilidade de gerar água de reúso e tenho a possibilidade de gerar nutrientes. O Brasil é uma potência agrícola e tem o preço de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio em alta no mercado global, em função de uma guerra na Ucrânia, mas o esgoto é riquíssimo em nitrogênio, fósforo e potássio”, explica Soares.

No ano passado, o Brasil gastou R$ 15 bi com importação de insumos para fertilizantes. FOTO: Reprodução.

Em 2021, o Brasil gastou mais de US$ 15 bilhões em importações de adubos e fertilizantes, já que 85% da demanda é atendida por países como Rússia, Canadá e China. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o consumo médio anual de fertilizantes gira em torno de 40 milhões de toneladas, sendo um terço para cada grupo NPK, nitrogenados, fosfatados e potássio, nutrientes bastante presentes no lodo do esgoto.

“Será que eu tenho que pegar esses produtos que a agricultura demanda em outros países, quando eu tenho uma estação de tratamento de esgoto que é uma maquininha de produzir isso? Ou eu tenho de partir para o desenvolvimento tecnológico de extrair nitrogênio, fósforo e potássio dessas estações de tratamento de esgoto? Aí está o nosso desafio maior, transformar a estação de tratamento de esgoto como essa central de produção de matéria-prima”, sinaliza.

O lodo também pode ser usado para recuperar áreas degradadas, ajudar no processo de reflorestamento e hidrocarbonização, além de ser transformado em combustível e energia em biorrefinarias e biodigestores, alguns deles já instalados em concessionárias.

Com informações da Brasil 61

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