Vanessa Bayma
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MANAUS – AM | Segundo dados preliminares que integram o novo Atlas do Diabetes, o mundo atingiu, em 2020, a projeção que estava prevista para 2030, no número de pessoas portadoras da doença. Só nos dois últimos anos, o aumento foi de 16%. A médica endocrinologista Evellyn Kiyoku chama atenção para os dados alarmantes.
“É necessário que a população não subestime a doença. A gente tem visto muitos casos, principalmente neste período de pandemia, em que as pessoas ficaram em isolamento social, diminuíram as atividades físicas e aumentaram o sedentarismo. Houve um aumento de consumo de alimentos industrializados, fast-food, alimentos hipercalóricos e, tudo isso junto, além da genética, contribui para o agravamento do problema”, alerta a médica endocrinologista.
Segundo a Federação Internacional de Diabetes (FID), atualmente a doença já atinge 537 milhões de pessoas com idade entre 20 e 79 anos, sendo 32 milhões nas Américas do Sul e Central. A previsão é que esse número aumente para 643 milhões em 2030 e 783 milhões em 2045. “A prevalência global aumentou em 10,5% e quase metade dos adultos, mais precisamente 44.7%, não sabem que têm a doença. Essa é uma doença silenciosa”, apontou a médica.
De acordo com a médica endocrinologista, em 90% a 95% dos casos, o diabetes se manifesta como o Tipo 2, que está relacionado ao sobrepeso, obesidade e maus hábitos de vida. No Tipo 1, são aproximadamente 5% a 10% dos casos, mais comum em crianças e adolescentes. Há também o diabetes secundário, por medicamentos, e o diabetes gestacional.
Conforme a FID, o diabetes é uma doença crônica, na qual o corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz. Segundo explica a especialista, é comum haver muitos pacientes assintomáticos e até mesmo subdiagnosticados, o que acelera o aparecimento de outras doenças e intensifica o problema. Os sintomas podem variar, mas é necessário atenção.
“Na grande parte, se observa pacientes com hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) muito descontrolada, que pode causar glicosúria (saída de glicose na urina). Essa urina pode atrair formigas próximo ao vaso sanitário e exalar um cheiro adocicado. Podem apresentar, ainda, poliúria, que é o aumento da quantidade da urina, e a polidipsia, que é a sede excessiva. Além disso, excesso de fome, perda de peso progressiva e anormal”, relaciona.
O diabetes pode ser diagnosticado por qualquer médico clínico geral, em exame de rotina de qualquer especialidade. Mas, a endocrinologista informa que alguns casos possuem um “alerta vermelho” e o especialista é o mais indicado. São eles: pessoas com comorbidades em geral, com obesidade ou complicações na saúde.
“É melhor ir ao especialista, para avaliar todas as condições necessárias. Não tratar somente a diminuição da glicose sanguínea, mas cuidar também, por exemplo, da obesidade. Somente o endocrinologista vai ajudar nisso, além de outras associações de doenças que vai ser melhor avaliado em consulta”, afirmou.
Além do tratamento não medicamentoso, que é a mudança do estilo de vida com uma alimentação mais saudável, a pessoa com diabetes pode passar a ter que se medicar para controlar o nível de glicose no corpo. No caso de pessoas com pré-diabetes, que são as que já se encontram com dificuldades de produzir insulina, podendo vir a ter a doença, a medicação também pode ser recomendada, dependendo de cada caso.
Vivendo com diabetes
A professora Shirley Bezerra da Costa, de 42 anos, descobriu o diagnóstico de diabetes 1 quando ainda tinha 20 anos de idade. Ela sentiu vários sintomas muito incomuns, foi diagnosticada cedo e começou a fazer tratamento com insulinas e a adotar a contagem de carboidratos. Mesmo assim, desenvolveu vários problemas, o que impactou na sua qualidade de vida.
“Comecei a perder peso, a fazer muito xixi e ter cansaço nas pernas. Fiz exame de glicemia em jejum, na época, e nesse dia deu 499 mg/dl. Iniciei tratamento e, mesmo com todos os cuidados, o diabetes afetou minha visão, operei dois olhos por causa da catarata, tive pé diabético, amputei um deles; tenho neuropatia diabética e hoje faço hemodiálise três vezes na semana”, explicou a professora.
O diagnóstico, feito no Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto, veio ainda com muito mal estar, ânsia de vômito e dificuldade para andar. Toda a rotina de Shirley Costa mudou, devido a agressividade da doença. Mais de 20 anos depois, ela diz que os cuidados continuam e são muitos. “Muda tudo. Dieta, rotina de controle de glicemia, furo meus dedinhos oito vezes por dia ou até mais se estiver me sentindo mal. Também aplico insulina toda manhã, na barriga”.
No início, o tratamento era a cada três meses, mas, com as complicações, Shirley tem o acompanhamento com o especialista de 20 em 20 dias, porque se tornou paciente renal. “A dieta é muito mais restrita. Evito coisas doces, carboidratos simples e tenho uma tabela para calcular o carboidrato de cada alimento. Tem que ser certinho o cálculo, porque você pode ter uma hipoglicemia se calcular errado”.
Até chegar a esse nível de complicações, ela lembra que tinha um estilo de vida sedentário, estava acima do peso, comia mal e tinha uma rotina corrida. Sua indicação e alerta, assim como da médica endocrinologista, são as mesmas: cuidar da alimentação, praticar esportes, evitar muito açúcar e consultar o médico em caso de muita sede, fome ou cansaço.
A série de problemas relatados por Shirley faz parte do conjunto de complicações que o diabetes pode causar: perda da acuidade visual, pela retinopatia diabética, doença renal crônica dialítica e amputação não traumática de membros inferiores. No entanto, quanto mais cedo e rápido o diagnóstico, menos danos à saúde.
Mais de 100 mil pessoas em Manaus vivem com diabetes
Dados do Departamento de Informações, Controle e Regulação (Dicar) da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) apontam que a estimativa, em Manaus, é de 101.586 pessoas com diabetes. Não há dados fixos sobre quantitativo de pacientes em tratamento.
Por ser diagnosticado por qualquer clínico médico, o problema é considerado de atenção básica. Todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS), segundo a Semsa, são aptas para tratamento.
Na unidade, o paciente é encaminhado para o médico clínico geral que faz a avaliação e solicita os exames necessários. Caso o resultado seja positivo para diabetes, o paciente é cadastrado no Programa “HiperDia”, que é para quem tem hipertensão, diabetes ou os dois juntos.
O programa inclui o acompanhamento com médico e enfermeiro, as medicações preconizadas pelo Ministério da Saúde para o programa, exames, encaminhamentos para profissionais especializados, tais como: endocrinologista, oftalmologista, cardiologista, nutricionista, entre outros. As consultas são, no mínimo, a cada três meses.
*A médica endocrinologista Evellyn Kiyoku é especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Ela atende na clínica Conceber, na avenida Via Lactea, 67, bairro Aleixo. Informações: 98432-5188.