Vanessa Bayma
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MANAUS – AM | O diretor presidente da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HDV), infectologista Marcus Guerra, considera prudente, com o surgimento da nova variante Ômicron, já com três casos confirmados em São Paulo, o cancelamento dos eventos com grandes aglomerações.
Segundo ele, apesar de ainda não haver comprovação do potencial da nova variante da Covid-19, é prudente que a população se resguarde. Ele acredita, inclusive, que a presença predominante da variante Delta em Manaus, acabe por criar um confronto com a nova cepa.
“Temos a predominância da Delta, descoberta há alguns meses aqui, e é possível que a ‘competição’ com ela não permita a instalação de outras variantes. Em Manaus, muitas pessoas já se infectaram com a Delta, criando uma imunidade, por algum tempo. Mas é preciso atenção ao quanto de exposição o paciente sofreu, à carga viral que recebeu”, explicou.
Outro fator que pode ajudar, segundo o diretor presidente da FMT-HDV, é o número significativo de vacinados em Manaus, o que forma uma barreira de proteção, principalmente entre os que têm maior chance de desenvolver a doença de forma grave. “O processo de reforço também está se dando no tempo correto e em um crescimento desejável”, apontou o diretor presidente.
No entanto, o médico ressalta que as pessoas não devem deixar de lado as proteções individuais, mesmo com os números mais confortáveis de casos de internação e óbitos. Como pouco se sabe sobre a nova variante, disse ele, o ideal seria suspender as grandes festas programadas na cidade, por conta do final de ano.
“Por enquanto, o mais prudente seria isso (cancelamento de grandes eventos), para que não tenhamos que lamentar mais na frente. É como eu digo: cada dia a gente aprende algo novo, um detalhe a mais sobre o SARS-COV. Não temos o domínio total desse vírus, principalmente por causa das mutações e adaptação de espécie”, avaliou.
Em Manaus, segundo ele, não se pode dizer que a cidade viveria o caos novamente, como foi no primeiro e segundo picos da doença. Mas o infectologista explica que estamos no período de ocorrência de vírus respiratórios, além da Covid e, por isso, é preciso cautela nesse período. “Nessa época sazonal, até pelos vírus que já estão circulando, podemos ter um aumento de casos em dezembro, se as medidas individuais forem relaxadas totalmente”, alertou.
Segundo o especialista, atualmente circula na cidade os vírus H1N1 (Influenza), alguns adenovírus, o SRAG (Síndrome respiratória aguda grave) e pneumovírus, o que aumenta o caso de internações, principalmente em crianças. A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) já fez, inclusive, o alerta sobre isso.
A FVS informou, terça-feira (30), que além do monitoramento dos vírus respiratórios, realizou 39 mil testagens de detecção do novo coronavírus. As amostras são analisadas e submetidas à sequenciamento genético, sendo possível o isolamento de casos e contenção de novas variantes, como a Ômicron.
No entanto, a diretora-presidente da FVS, Tatyana Amorim, ressalta que foram reconhecidas apenas as variantes já conhecidas. “As testagens identificaram as variantes Gama e Delta, até então”, informou. A FVS emitiu nota reforçando que não há ainda registro da presença da nova variante Ômicron no Amazonas.
Características do Ômicron
A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou que a Ômicron tem um “grande número de mutações”. A organização internacional disse que a preocupação maior é com a alta transmissibilidade, a capacidade do escape de vacina e também a gravidade dos casos.
Sobre o assunto, Marcus Guerra destaca que, apesar do susto inicial, os casos vêm se desenvolvendo dentro da normalidade. “O que chamou atenção, no início, foram as 50 mutações, principalmente na proteína ‘spike’, que é da adesão das células de invasão e, por conta disso, seria mais transmissível, capaz de invadir o sistema imune, causar casos mais graves, aumentando o número de hospitalizações. No entanto, não é o que está se vendo pelo relato locais onde foi detectado e está predominando o vírus”, frisou.
De acordo com ele, desde os casos de ebola, a África possui um grande sistema de pesquisa para detecção de agentes infecciosos. Foi a partir disso que a nova variante foi descoberta, numa localidade onde havia baixa adesão da vacina contra a Covid. Para o médico, é possível que essa variante já tenha circulado antes.
“A detecção do vírus tem um período muito pequeno que fica nas vias aéreas. Pode ser que tenha passado o momento ou ainda não seja possível detectar o vírus, e a pessoa vai infectando os outros. Isso nós temos observado. Não é que o exame seja falho, às vezes é o momento da coleta que não é oportuno para identificar”, pontuou Guerra.