Carnaval traz à cena o talento dos artistas do boi-bumbá, mas bastidores escondem tragédias

A presença do boi de Parintins no Carnaval carioca se faz pelas mãos de seus artistas. FOTO: Reprodução.

DA REDAÇÃO

MANAUS – | Quando as escolas do grupo especial do Rio de Janeiro e São Paulo entrarem na avenida, nos próximos dias 22 e 23 de abril – sexta-feira e sábado da próxima semana – quem é fã ardoroso do Boi-Bumbá de Parintins (Caprichoso e Garantido) vai poder reconhecer o talento de artistas nativos só em bater o olho, principalmente nos movimentos das alegorias e nos efeitos especiais.

E não é de hoje que a presença de artistas parintinenses é marcante no Rio, São Paulo, Manaus e outras cidades brasileiras onde o carnaval representa a cultura popular. Ao menos desde a década de 90 eles brilham, e muito. É uma mão-de-obra extremamente qualificada e requisitada.

Atualmente, os artistas são contratados não mais de forma individual, mas em equipes, fazendo parte de um pacote de serviços e profissionais e, quase sempre, para mais de uma escola, no ano.

Entre as grandes escolas do Rio de Janeiro, Salgueiro, Imperatriz Leopoldinense, União da Ilha e a Acadêmicos do Sossego (Niterói) vão exibir o trabalho das equipes de artistas parintinenses, como peças com movimento, robótica de esculturas em ferro com movimento e escultura em isopor. Em São Paulo, outra equipe de parintinenses trabalha na Império de Casa Verde.

Gereca, em trabalhos de anos anteriores. FOTO: Arquivo Pessoal.

“Várias equipes formadas por artistas de ponta e outros profissionais estão trabalhando para o carnaval deste ano, tanto no Rio, quanto em São Paulo e outras cidades brasileiras”, explica o artista do Boi Caprichoso, Geremias Ribeiro Pantoja, o Gereca. “Do Caprichoso, por exemplo, existem vários artistas de ponta coordenando equipes para escolas de samba”, diz.

Entre os artistas de Ponta do Caprichoso que estão coordenando equipes para a realização de trabalhos em escolas de samba do Rio destacam-se Alex Salvador, Algles Ferreira e Kenedy Prata, do Caprichoso. Além de Neizinho, em São Paulo.

Na avaliação de Gereca, o que motiva os artistas parintinenses a trabalhar para o Carnaval, principalmente no Rio e em São Paulo, é o fator financeiro, porque apesar de os trabalhos serem mais demorados, são melhor remunerados. “O artista vive da arte, vive do que faz, então ele viaja pensando nisso, em manter sua família. Lógico que a projeção também conta. Você ser reconhecido nacionalmente por um trabalho é muito bom para o teu crescimento profissional”, argumenta Gereca.

Tragédias – A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Várias obras da dramaturgia e da teledramaturgia envolvem os bastidores do carnaval em um cenário de tragédia. Na vida real, o glamour, o colorido e a alegria que desfilam na avenida também escondem histórias com desfechos trágicos e mal esclarecidas.

Recentemente, o artista do Boi Garantido e que trabalhava como carnavalesco na Escola de Samba Gaviões da Fiel, em São Paulo, Zilkson Reis, foi brutalmente agredido e, em consequência, foi parar na Unidade de Tratamento Intensivo da Santa Casa, com coágulo na cabeça e pulmão perfurado, tal a natureza da agressão.

Além da violência em si, o caso gerou revolta pela omissão da Gaviões e, em seguida, uma tentativa de responsabilizar a própria vítima pela agressão sofrida. Uma nota publicada pela agremiação fazia insinuações sobre o comportamento do artista. Logo em seguida, a nota foi apagada das redes sociais e outra publicada, informando que o fato já estava sendo investigado.

De acordo com a assessoria do Garantido, Zilkson continua internado em São Paulo e, por conta da gravidade de seu caso, vai continuar sendo assistido na Santa Casa. “Ele segue em recuperação e seu estado é estável”, disse a assessoria. “O Garantido está fazendo todo o acompanhamento do caso”, informou.

E esse não foi o primeiro caso envolvendo a Gaviões da Fiel e artistas do Boi-Bumbá de Parintins. No início de março, o artista do Caprichoso – soldador e escultor – Francinaldo Pio de Araújo, que trabalhava para a escola paulista, foi encontrado morto, após várias horas desaparecido. A Gaviões também manteve silêncio sobre o caso.

NOTA DA REDAÇÃO:
O CANAL TRÊS entrevistou Geremias Ribeiro Pantoja, o Gereca, dois dias antes de um grave acidente de moto que ele sofreu em Parintins. Nesta quinta-feira (14), foi confirmado que o artista já recebeu alta, está em casa e em processo de recuperação.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui