CAPRICHOSO: Amazônia, nossa luta em poesia

PARINTINS – |As três noites de disputa do Festival de Parintins vão levar o Boi Caprichoso para a construção da temática da direção de arte, que envolve a luta dos povos da Amazônia para a sua liberdade e para a preservação da floresta: “Amazônia, nossa luta em poesia”.

“Essa Amazônia não nos é estranha porque somos parte dela e ela, parte de nós. É nosso corpo que grita, que chora, com cada árvore derrubada, cada rio poluído e cada voz calada, censurada, violentada por assassinos de lutas”, diz a apresentação do boi azul e branco.

O primeiro ato do Caprichoso será, portanto, “Amazônia-Floresta: o grito da vida”, contando o processo de invasão da Amazônia, um dos mais sangrentos e vergonhosos da história, que virá retratada na Lenda Amazônia Ka’aporanga, a guardiã da floresta, contando o primeiro ato de resistência. O tema segue na celebração indígena, mostrando a crueldade do conquistador e o roubo da terra e no ritual indígena, Tuparí: Sucaí, Otarupá da friagem.

Segunda noite – Em Amazônia-Aldeia: o brado do povo” o Caprichoso pretende mostrar as lutas constantes dos povos e comunidades tradicionais da Amazônia. Na concepção artística do Caprichoso, será mostrada a simbiose do caboclo da mata com o seu meio, para ele um ente vivo, com protagonismo para caboclos peculiares como os quilombolas dos castanhais do Rio Erepecuru; os coletores de incenso do Pau-Rosa do Rio Parú e do leite da Sucuba, no Amapá; os caboclos paneleiros do Mocambo. Todos acreditam que na mata vivem também milhares de seres encantados, aos quais se deve deferência e temor.

A exaltação folclórica fará um viva à afro-Amazônia, aos quilombolas de Manaus, de Barreirinha e de Oriximiná.

É nesse cenário que o Caprichoso encena “Os trilhos da morte”, na Lenda Amazônia, recontando o processo de construção da ferrovia Madeira-Mamoré (1907-1912), que fez permanecer no imaginário das populações do Vale do Guaporé, no estado de Rondônia, impressões

sobre o desastre humano que ela representou.

O desfecho da noite traz o ritual indígena Wayana-Apalai, trazendo o duelo mítico dos Wayana e Apalai contra Tuluperê, a fera que dizimava suas aldeias, unidos sob a liderança do poderoso pajé Apalai. Apenas juntos puderam derrota-lo e de sua pele herdaram os grafismos que ainda hoje remetem ao que estava gravado sobre o couro desse ser mítico.

TERCEIRA NOITE – Em “Amazônia-Festeira: o clamor da cura” O Caprichoso pretende mostrar as raízes e fundadores, desde Roque

Cid, passando pelos “donos” do Boi, que botavam o brinquedo junino nas ruas de Parintins, como uma homenagem ao caboclo parintinense, o jeito Caprichoso de existir e de fazer. Nesta noite, o Boi Caprichoso reafirma o seu desejo de salvaguardar a terra-floresta, suas gentes, humanas e não-humanas e a cultura.

Nesse teatro, o Caprichoso dá protagonismo para a beleza das formas dispostas nas alegorias e fantasias, a força das vozes poéticas, a harmonia vibrante das cores e o ritmo pulsante da marujada, formando um conjunto folclórico e clamando pela cura do mundo pela cultura popular, pela arte.

O Caprichoso promete transformar o Bumbódromo de Parintins em uma praça, rua e tribuna, onde seu povo possa erguer os braços e reivindicar novos pensamentos e atitudes, reafirmando o compromisso de manter a Amazônia-Floresta livre de garras nocivas e assegurada para as novas gerações.

Esse grito de resistência e luta pela liberdade terá seu ápice no ritual

Yanomami Reahú, Festa da Vida, com Ajuricaba como protagonista da revolta contra os colonizadores, no século XVII.

Presenças – O Caprichoso anunciou em coletiva que lideranças da luta pela terra estarão presentes em suas apresentações no Bumbódromo, entre eles, o líder indígena Dário Kopenawa Yanomami, Gilvana Borari, Alessandra, Luciane e Pauline Mundurucu, da Associação de Mulheres Indígenas Suraras do Rio Tapajós, todos impactados pelo garimpo.

Durante as apresentações, 21 intens estarão sob a observação dos jurados e, de suas apresentações e pontuações, dependerá o resultado do festival folclórico.

Conheça os itens do Caprichoso:

  • Apresentador/Edmundo Oran – aos 12 anos tornou-se apresentador mirim do Boi Caprichoso. Anos mais tarde, consagrou-se como apresentador oficial e se fez campeão, eclético e amado por nossa galera.
  • Levantador de Toadas/Patrick Araújo – afrodescendente, de 23 anos, foi revelado em festivais de cultura popular da região Norte. Em Parintins encontrou terreno fértil. É a sua estreia como levantador de toadas do Caprichoso.
  •  Marujada de Guerra –  reúne mais de 420 homens e mulheres manuseando os seus instrumentos musicais. O som coletivo emana de 120 surdos, 100 repiques, 100 caixinhas, 50 palminhas e 50 rocares.
  • Ritual Indígena – neste ano, foram recriados os rituais presentes nas etnias Tuparí (em Rondônia), entre os WaianaApalai (situados na fronteira com a Guiana e o Suriname) e o conhecido Reahú prati cado pelos Yanomami (que vivem na fronteira da Venezuela).
  •  Porta-Estandarte/Marcela Marialva – é amazonense e desde 2017 carrega a missão de ostentar o estandarte azul e branco na arena. Invicta, é reconhecida como “furacão”, pela força e a expressividade de sua dança.
  • Amo do Boi/Herland Pena, o “Prince do Boi” – tem vasta experiência musical. É ele quem entoa os aboios, tangendo o touro amado e o único a saldar o Boi com seu berrante.
  • Sinhazinha da Fazenda/Valentina Cid – Bisneta do cearense Roque Cid, fundador do Boi Caprichoso, Valentina Cid ocupa seu lugar na linhagem de sinhazinhas da nação azul e branca, que já foi defendido por sua mãe.
  • Rainha do Folclore/Cleise Simas – é parintinense e há muitos anos dançarina do Boi Caprichoso. Desde 2018, defende esse item, que sintetiza a diversidade de valores presentes nas manifestações populares brasileiras.
  • Cunhã-Poranga/Marciele Albuquerque – é  descendente do povo Munduruku, de Juruti. Representa a guerreira exemplar, a guardiã de sua gente e exibe toda a sua destreza através de sua dança.
  • Boi-Bumbá Evolução/Tripa Alexandre Azevedo – Em Parintins, o Boi-Bumbá, brinquedo popular feito de madeira, espuma, veludo e cetim, é um artefato que ganhou vida nas mãos de gerações de artesãos. O “Tripa do Boi”, que é quem lhe dá vida e movimento, é Alexandre Azevedo, filho de Marquinhos, que foi “tripa” por mais de 30 anos e confecciona, ainda hoje, no ateliê da família, o boi de pano.
  • Toada: Letra e Música – Na arena do Bumbódromo, as toadas são o fio que conduz o espetáculo. Elas cantam Aquilo que as alegorias, as indumentárias e a cênica narram visualmente. E em 2022 são elas que mostram que a luta pela Amazônia se traduz em poesia.
  • Pajé/Erick Beltrão – Há mais de 20 anos, Erick Beltrão atua como coreógrafo e dançarino do Boi Caprichoso. Nascido no coração do Palmares, bairro reduto do Boi Caprichoso, esse artista sempre alimentou o sonho de atuar como Pajé e o momento chegou, com sua estreia no 55º Festival.
  • Tribos Indígenas – São representações artísticas dos povos indígenas do Brasil no Festival Folclórico de Parintins. A beleza desse item está na sincronia dos movimentos, na dança, na reconstrução de diferentes padrões culturais através das coreografias, das cores e formas.
  • Tuxauas –A dança e a indumentária dos tuxauas do Caprichoso é uma reverência à ancestralidade dos povos indígenas amazônicos.
  • Figura Típica Regional – nas três noites se sucedem o caboclo ribeirinho – guardião das águas; o caboclo das matas – guardião da floresta; e o brincador de boi – que é o caboclo parintinense.
  • Alegorias – São cenários grandiosos que emolduram a narrativa do Bumbá. Frutos do trabalho de artistas visuais que comandam grandes equipes composta de mais de 300 homens e mulheres – escultores, soldadores, pintores e tecelões, quase todos sem nenhuma formação acadêmica.
  • Lenda Amazônia – nas três noites serão apresentadas Kaa’poranga–a guardiã da floresta, da etnia Maraguá; Os trilhos da morte, que repercute o imaginário dos habitantes do vale do Guaporé sobre a estrada de ferro Madeira-Mamoré; e Pássaro primal – que narra o surgimento das aves tradição do povo indígena Kayapó.
  • Vaqueirada – Item coletivo formado por 40 homens, sendo 20 moradores do bairro do Palmares e 20 da comunidade do Parananema, área rural de Parintins. Há décadas, os cavalinhos são confeccionados por Mestre Tristeza, artesão que tem se esforçado para passar adiante suas técnicas para salvaguardar esse conhecimento.
  • Galera – As arquibancadas vão virar praça, rua e território, onde as multidões cantam a resistência pela vida da Amazônia, dentro da temática que o boi propôs.
  • Coreografia – A coreografia traz em sua composição toda a força desses encontros e desencontros que fizeram desse território um lugar de muitas gentes, vindas da floresta e das cidades – com origens e culturas diversas.
  • Organização do Conjunto Folclórico – Harmonia, sincronia e sensibilidade de todos os coletivos do Boi-Bumbá e a expertise de fazer o espetáculo fluir estarão em análise.

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